segunda-feira, 18 de novembro de 2013

REFORMAS RELIGIOSAS


AS REFORMAS RELIGIOSAS E SEUS CONTEXTOS*
A Reforma representou um dos movimentos históricos fundamentais do inicio dos Tempos Modernos. Foi motivada por um complexo conjunto de causas que ultrapassaram os limites de mera contestação religiosa a Igreja Católica. O homem do século XVI fez transparecer no plano religioso toda uma série de descontentamentos que refletiam sua condição de vida material e toda uma postura política, social e econômica.
A Igreja Católica sofreu diretamente o impacto das transformações ocorridas na sociedade européia durante o século XVI. Vários movimentos religiosos deixaram de reconhecer os dogmas estabelecidos pela Igreja e a autoridade do Papa. Esses movimentos religiosos, conhecidos genericamente como Reforma, tinham intimas ligações com o desenvolvimento do comercio e com a formação de uma nova categoria social: a Burguesia.
              A concepção católica de mundo já não mais atendia aos anseios e as novas formas do pensar e de viver difundidas pelo Renascimento. E como a Igreja católica tinha um pensamento de continuidade e mantinha-se fiel aos princípios do Feudalismo, que lhe dava inúmeras regalias, houve uma forte reação por parte dos novos setores da sociedade, que elaboraram uma nova vertente do cristianismo, mais adaptada às necessidades burguesas. Não houve propriamente uma ruptura no campo religioso do ocidente, pois as Igrejas Protestantes que surgem continuam com a doutrina crista, porém com uma releitura desta para o novo contexto que se delineava na sociedade européia naquela ocasião.

REFORMA PROTESTANTE

Deu-se o nome de Protestantismo a todos os movimentos que nesse período criticavam e romperam laços com a Igreja Católica. Dentre os fatores que motivaram modificações ideológicas e doutrinarias podemos apontar:
·             O homem do Renascimento foi profundamente influenciado pelo Humanismo, isto é, elegeu o conhecimento sobre si mesmo como o centro das atenções e dos estudos, sendo que as criticas a Igreja se baseavam exatamente nesse humanismo renascentista. Erasmo de Roterdam, por exemplo, criticava a Igreja por ter se distanciado dos ideais de humildade e pobreza e ter passado a valorizar a riqueza, o luxo, o prazer e a ociosidade. Ele lembrava que a Igreja crista primitiva era exatamente oposta, pois buscava a simplicidade, a piedade e o amor ao próximo.
·             A Igreja dos Papas renascentistas era a Igreja do luxo, que acumulava riquezas com a venda de relíquias tidas como sagradas. Isto fazia com que junto à população às criticas a Igreja aumentassem ainda mais.
·             A própria formação das Monarquias Nacionais, com um rei dominando um território nacional, contribuiu para aumentar o conflito com a Igreja e diminuir sua autoridade. Cada rei representava uma nação e a idéia de monarquia nacional se opunha frontalmente ao universalismo católico medieval. A consolidação e ampliação da autoridade do rei se fazia em detrimento da autoridade temporal dos Papas.
·             Um dos fatores mais importantes do movimento da Reforma estava relacionado com a questão do lucro e da usura. A Igreja Católica acumulava riquezas materiais através de artigos de luxo, obras de arte e terras, mas condenava o lucro que os demais segmentos sociais obtinham em suas atividades considerando-o pecaminoso e a cobrança de juros no empréstimo de dinheiro, como roubo. Era impossível conciliar essas posições e as pessoas não queriam agir contra as “leis divinas”.
Quanto a esta última questão, os pregadores calvinistas passaram a difundir a idéia de que aquele que ganhasse dinheiro legalmente e o acumulasse estava, na verdade, agindo segundo os caminhos de Deus. Por esta razão, a burguesia em algumas partes da Europa aderiu quase inteiramente as idéias da Reforma, com, por exemplo, à Holanda, em outras regiões tal fato não ocorreu na mesma intensidade.
Quando se fala em Reforma, uma questão surge quase que automaticamente: Porque a Reforma começou na Alemanha?
Enquanto a França, Portugal, Espanha e Inglaterra ram países unificados politicamente, com um rei no poder, a Alemanha não existia enquanto nação. Era um grande conjunto de Estados independentes chamado de Sacro Império Romano Germânico. Isso significava que não havia um governo central, mas sim uma autoridade teórica exercida por um imperador com pouquíssima força política. Na verdade, o poder estava distribuído entre diversos pequenos Estados dominados por príncipes, nobres e membros do alto clero. Sempre que um imperador tentava centralizar o poder, tanto a Igreja quanto os príncipes e nobres em geral se uniam para lutar contra essa tentativa.
A Igreja católica representava tudo o que estava ligado às praticas feudais. Os impostos que a Igreja mandava para Roma enfraqueciam ainda mais o poder do imperador. Ao mesmo tempo a burguesia alemã bastante fraca se comparada à inglesa e a francesa, via a Igreja como serio obstáculo a suas atividades.
A própria nobreza alemã tinha seus motivos para ser contra a Igreja Católica, que era a maior proprietária de terras na “Alemanha”. As camponesas também tinham suas razões para discordar dos rumos que a Igreja vinha tomando. Isto porque os impostos cobrados pela Igreja eram pesados e exigiam duras jornadas de trabalho. Foi nesse contexto que eclodiu a Reforma Protestante nos Estados Alemães.
A doutrina protestante passa a ter como base a Teologia Agostiniana (defendida por Santo Agostinho) que sustentava a fé como única fonte de salvação e defendia o principio da predestinação. Para os protestantes luteranos a Bíblia era a autentica base da religião e, portanto, o culto dever-se-ia reduzir a leitura e ao comentário das Sagradas Escrituras, com a livre interpretação das mesmas. Também só deviam ser conservadas as praticas instituídas por Cristo e por ele transmitidas através do Novo Testamento.
Nesta mesma linha de idéias foi negada a existência do purgatório e dos sete sacramentos, reconhecendo apenas dois: batismo e eucaristia. Não aceitavam o culto das imagens, da Virgem Maria e dos Santos. Nos cultos religiosos adotou-se a língua nacional no lugar do latim e os ministros religiosos deveriam integrar-se o mais possível na comunidade dos fieis abolindo-se assim o celibato clerical. Os luteranos e os calvinistas ainda extinguiram a hierarquia eclesiástica da organização de suas Igrejas.
A transformação no campo religioso representou uma mudança nas sociedades em que se instalou, principalmente no que diz respeito ao poder político: à medida que a supremacia milenar da Igreja se rompia em alguns países europeus, o poder antes concentrado na Igreja, passa a ser transferido para a figura do monarca.
A Reforma Protestante trouxe consigo assim, mudanças que possibilitaram a expansão do capitalismo.Os ideais reformistas apesar de estarem intimamente ligados as idéias renascentistas, não romperam definitivamente com o mundo feudal é certo, porém que podem ser associadas às idéias renascentistas à medida que colocaram o homem como um ser capaz de pensar e de agir por si mesmo.

CONTRA-REFORMA

Com o movimento protestante, a Igreja Católica sentia-se bastante enfraquecida, a Inglaterra já não era mais católica, grande parte da Alemanha havia se convertido ao luteranismo.
Diante dos movimentos que se espalhavam por toda Europa, tendo somente Portugal Espanha e Itália como exceções, a reação inicial da Igreja Católica foi a de punir os lideres rebeldes, na esperança de que as idéias dos reformadores não se propagassem e de que o mundo cristão recuperasse a unidade perdida. Essa tática, entretanto, não deu bons resultados, uma vez que o movimento protestante avançou pela Europa, conquistando crescente número de seguidores. Era, portanto, necessário reconhecer o Cisma do Ocidente, 500 anos após os ortodoxos ter conquistado sua autonomia no Cristianismo.
Inicio-se dentro do Catolicismo, um amplo movimento de moralização do clero e de reorganização das estruturas administrativas da Igreja. Esse movimento de reformulação da Igreja Católica passou a ser conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica.
Todo um conjunto de medidas foi colocado em pratica para atuar contra o continuo avanço protestante ou na pior das hipóteses, atenuar seus efeitos sobre a sociedade européia. Verifica-se, portanto, que o catolicismo foi obrigado a adequar-se aos novos valores e padrões provenientes das mudanças em curso.
A Reforma Católica se destaca pela busca da restauração da antiga ordem baseada na tradição medieval-feudal. Tem o objetivo de combater as doutrinas protestantes, o que foi idealizado pelo Concilio de Trento (1545-1563), pelo qual se reafirmou os dogmas e os preceitos Tomistas (defendidos pelo teólogo São Tomás de Aquino) do catolicismo, que pelo principio do livre arbítrio, ou seja, pela concepção de que cada indivíduo escolhe sua salvação ou o caminho da perdição e a salvação decorre da conjugação da fé do individuo e das boas obras que ele realiza. No entanto, proíbe a venda de Indulgências e cargos eclesiásticos, para esses últimos visando a melhor formação dos clérigos, criou-se os Seminários, escolas especiais para a formação de padres.
Uma das primeiras “armas” utilizadas pela Igreja Católica foi à reativação do antigo Tribunal do Santo Oficio da Inquisição, que havia sido esquecido no final da Idade Média. Pelo Tribunal da Inquisição seriam julgados todos aqueles que fossem suspeitos de difundir novas idéais religiosas, ou seja, o Protestantismo. Com isso a vida de um protestante num país católico tornava-se praticamente impossível.
Além do tribunal inquisitório, a Igreja criou o Índex, uma lista de títulos de livro considerados proibidos para um católico ler, pois poderia trazer idéias profanas e pecaminosas, gerando um entrave ao progresso cultural e cientifico europeu no período.
A Reforma Católica foi reforçada com o surgimento de novas ordens religiosas. Uma dessas ordens foi a Companhia de Jesus, constituída pelos jesuítas, que tinham em sua organização a rigidez militar. A Companhia de Jesus fortaleceu o catolicismo dentro dos países que permaneceram fieis a Igreja Católica, exercendo principalmente uma função educadora, com o claro objetivo de dar continuidade ao catolicismo e barrar a infiltração de idéias protestantes.
É importante lembrar que todo estes acontecimentos ocorreram no mesmo instante que as Monarquias Nacionais se fortaleciam tornando-se absolutas.

* Texto elaborado por Vitor Hugo Garaeis, graduado em História pela ULBRA.

Referências Bibliográficas:

LUIZETTO, Flavio. Reformas Religiosas. SP: Contexto, 1989.

MARQUES, Adhemar M., BERUTTI, Flavio C., FARIA, Ricardo de Moura. História Moderna através de textos. SP: Contexto, 1997.

RANDELL, Keith. Lutero e a Reforma Alemã. SP: Ática, 1995.

THOMAS, Keith. Religião e declínio da magia. SP: Cia das Letras, 1991.

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