quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os Povos Pré-Colombianos e a Conquista Europeia

Maias, Astecas e Incas
Você pode não saber detalhes sobre os incas, maias e astecas, mas pense bem: esses nomes lhe são totalmente estranhos? Pelo sim, pelo não, o mapa acima indica a localização dos três impérios em questão e pode ser considerado o primeiro passo para entender quem foram esses povos que, com suas grandes, belas e organizadas cidades-estado, impressionaram os espanhóis que aportavam no continente americano no século 16.
Assim como os demais habitantes das Américas na época do descobrimento, os incas, maias e astecas foram, de forma geral, chamados de índios pelos europeus. No entanto, ao longo do texto, você vai perceber que, apesar de muitas semelhanças, havia diferenças entre eles -- como línguas, hábitos e costumes -- e vai descobrir que o que restou de seus templos e outras obras de arquitetura são tesouros que, até hoje, encantam os turistas que visitam o México, o Peru e a Guatemala.
Para entender quem foram e qual a importância dos povos incas, maias e astecas, devemos fazer primeiro uma pergunta: o que é a cultura de um povo? De forma simples, podemos dizer que cultura é o conjunto de crenças, tradições, conhecimentos, costumes e comportamentos dos povos. No caso dos incas, maias e astecas, os pesquisadores acreditam que suas culturas foram construídas a partir de crenças, tradições, conhecimentos, costumes e comportamentos transmitidos por outros povos que viveram antes ou ao mesmo tempo em que eles. Assim, muitas das características que chamam a atenção nessas três civilizações -- como a construção de grandes cidades, templos majestosos, técnicas de irrigar solo, calendários, escritas, estilos artísticos, deuses e rituais religiosos -- já faziam parte da vida de grupos ainda mais antigos.
Mas, afinal, o que há de curioso sobre esses povos? Podemos começar falando dos calendários dos maias e dos astecas que, baseados na observação das estrelas no céu, eram precisos e usados para informá-los sobre as datas importantes para a agricultura (tempo de plantio e de colheita), para a religião (datas comemorativas) e para a política (organização e cobrança de impostos). Os calendários também serviam para fazer previsões e ler o destino dos povos e dos indivíduos.
A escrita é também uma característica marcante dos astecas e dos maias. Os primeiros se comunicavam por escrito através de imagens (escrita pictográfica) e ficaram famosos por seus lindos códices, os manuscritos anteriores ao livro, com desenhos detalhados que dão conta de informar sobre o cotidiano de suas vidas. Já os maias escreviam através de sinais representando idéias, chamados hieróglifos, que até hoje não foram totalmente decifrados. E os incas? Esse povo não conhecia a escrita, mas chamou a atenção dos espanhóis pela perfeição do sistema de recenseamento desenvolvido para listar a população tributária de seu Império: através de cordas e nós coloridos, registravam minuciosamente as pessoas que deviam pagar impostos.
Outros visitantes
Os incas também se destacaram pelos caminhos que construíram para ligar seu vasto Império, desenvolvendo assim um excelente sistema de comunicações. Esses caminhos, além de facilitar o ir e vir das pessoas, levando e trazendo informações, tinham postos que serviam de albergue e de correios. A população que conservava esses postos devia provê-los de mensageiros sempre prontos a receber mensagens e transmiti-las ao posto vizinho. Assim, todo o Império estava conectado, fazendo as notícias percorrerem até dois mil quilômetros em menos de uma semana, o que surpreendeu os europeus.
Os incas e os astecas eram povos guerreiros e com suas vitórias dominaram outros povos com os quais formaram seus impérios que estavam em plena expansão, quando os espanhóis chegaram à América. Os maias, embora também participassem de guerras, não chegaram a construir um império com vasto domínio sobre outros povos, mas igualmente se destacavam pela organização de suas cidades-estado, cujo auge foi anterior à chegada dos europeus. Esse fato talvez explique, em parte, a razão pela qual os maias são menos conhecidos e estudados que os incas e os astecas.
Os três povos desenvolveram técnicas avançadas de irrigação, que tornavam férteis os solos secos e, com isso, aumentavam muito a produção agrícola. A grande quantidade de alimentos facilitou o surgimento de cidades amplas e populosas. Mas nem todos trabalhavam em atividades de subsistência, ou seja, de produzir apenas o necessário para o consumo próprio. Alguns se dedicavam aos afazeres políticos, religiosos ou guerreiros e constituíam a nobreza encarregada de organizar e controlar o funcionamento dos vastos impérios e cidades. Outros se ocupavam das artes. Entre os astecas havia aqueles que trabalhavam com o comércio. Porém, a maioria da população, no caso dos três povos, era formada por camponeses agricultores.
Como os membros dessas sociedades tinham diferentes funções, tinham também direitos e deveres específicos. A produção agrícola era garantida pelos camponeses que trabalhavam suas terras com técnicas simples e rudimentares, produzindo os gêneros necessários à manutenção de suas famílias, comunidades, cidades e estados. Além disso, eles trabalhavam coletivamente para as obras púbicas dos Estados. Pode parecer impossível a conciliação das duas funções, mas uma característica marcante desses povos era a organização dos trabalhadores pelos governantes, que administravam as cidades-estado levando em conta aspectos religiosos, econômicos e militares.
Tanto para os incas, maias e astecas quanto para qualquer comunidade indígena, o trabalho, a religião, o lazer, a obediência aos chefes, as relações de aliança ou de guerra com os vizinhos são atividades conjuntas que não se separam no dia a dia de suas vidas. Assim, quando eles trabalham podem estar, ao mesmo tempo, cumprindo uma obrigação religiosa ou política. O mesmo pode acontecer quando estão em guerra ou quando cantam, dançam e bebem.
Trabalho, religião e poder
Quando os incas e astecas dominaram vários grupos com suas vitórias nas guerras, eles não os submetiam diretamente à escravização ou exploração. Procuravam garantir o bom funcionamento de seus impérios tornando as relações mais serenas, deixando claro quem mandava, mas fazendo acordos que estabeleciam direitos e deveres mútuos.
Assim, os vencidos que passavam a fazer parte dos impérios inca ou asteca deviam obediência, pagamento de tributos e respeito aos seus reis e deuses. Em compensação, as terras e comunidades dos povos dominados poderiam continuar com seus próprios chefes e deuses, desde que esses se tornassem subordinados às divindades e chefias dos impérios dominantes. Ao aceitar o acordo, os povos vencidos tinham direito à proteção do império, ou seja, os dominantes deviam zelar por seu bem estar econômico e espiritual e fornecer-lhes o auxílio necessário em tempos de dificuldades ou em ocasiões de festividades religiosas ou de amplos trabalhos coletivos.
Está claro que se tratava de um sistema de dominação amenizado, de certa forma, por essa troca de direitos e deveres entre as comunidades indígenas dominadas e os grandes estados. Mas o que acontecia quando os povos vencidos não aceitavam fazer acordo? Nesse caso, o império agia com a força: podia tomar as terras desses grupos e torná-los uma espécie de servos ou escravos para trabalhar nas terras das autoridades políticas, religiosas e guerreiras, que constituíam a nobreza entre os incas e os astecas.
Para os chefes dos impérios maia e asteca, o poder era atribuído a eles pelos deuses e, por isso, suas funções se revestiam de um caráter sagrado, o que aumentava o prestígio junto aos seus subordinados. Já entre os incas, depois de determinada época, o imperador se identificava diretamente com o principal deus de seu povo: o Sol. Isto é, era como se o imperador fosse o próprio deus Sol.
Os três povos eram politeístas e, dentre seus vários deuses, o Sol tinha um lugar muito especial: era ligado às origens de seus mundos e responsável, portanto, por sua continuidade e sobrevivência. Os grandes templos, nos quais se realizavam as cerimônias religiosas e os sacrifícios, demonstram a importância da religião para esses grupos, que através dela davam sentido às suas vidas sociais e familiares. Eles acreditavam numa sucessão de mundos ou eras que terminavam sempre por catástrofes causadas por grandes incêndios, inundações ou guerras. Sacrifícios religiosos eram feitos para agradar aos deuses, evitar calamidades e garantir a prosperidade, o equilíbrio e a sobrevivência de todos. Os astecas e os maias ofereciam aos deuses seus prisioneiros de guerra e os incas, de acordo com os pesquisadores, sacrificavam apenas animais.
Incas, maias e astecas foram apenas três dos muitos povos indígenas que habitaram a América. A arte, o esplendor e a sabedoria de suas sociedades deslumbraram os europeus no século 16, porém não os impediu de destruir esses povos na ânsia de apoderar-se de suas riquezas. Apesar do altíssimo número de mortos e dos prejuízos incalculáveis causados às populações indígenas, sua resistência foi também surpreendente, tanto que até hoje assistimos no México, no Peru e na Guatemala os descendentes desses povos afirmando suas origens, orgulhando-se delas e lutando para obter os direitos que lhes cabem.
texto: Maria Regina Celestino de Almeida, Departamento de História, Universidade Federal Fluminense

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