quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Encontro de dois mundos

O IMPACTO DA CONQUISTA
 Conquista ou descobrimento
Do século XV ao XVIII, os europeus deixaram as fronteiras de seu continente e expandiram-se pelo mundo. África, Ásia e América foram objetos da conquista e exploração européias. Quais as conseqüências dessa expansão marítima e comercial?
Durante muito tempo, a historiografia tradicional expôs apenas os aspectos positivos dessa questão: as glórias, os benefícios e o progresso para o mundo. Transmitia uma visão heróica dos feitos do europeu conquistador.
Aliás, o próprio termo conquista quase foi banido da História. Em seu lugar, utilizava-se a expressão descobrimento: descobrimento da América, descobrimento do Brasil. Essa substituição de palavras tem raízes antigas. Já em 1556 havia determinações do rei da Espanha proibindo o uso da palavra conquista e propondo a utilização do termo descobrimento. Não se trata de mera preferência por palavras, O termo conquista preserva na memória a existência de uma guerra entre os conquistadores (os vencedores) e os conquistados (os vencidos).
No caso de toda a América - o Brasil inclusive -, devemos insistir na palavra conquista. Assim, analisaremos as conseqüências desse processo, tanto sob a ótica do europeu quanto dos povos pré-colombianos. Vencedores e vencidos: as duas faces da moeda da história.
 Visão dos vencedores: os europeus
A conquista colonial de diversos povos do mundo, resultante da expansão marítimo-comercial, foi considerada um direito inquestionável da Europa. Por quê?
Considerando a civilização européia superior as demais civilizações, os europeus julgavam-se no direito de submeter os povos do resto do mundo, impondo-lhes sua cultura.
 A crença na superioridade da civilização européia baseou-se principalmente nos seguintes pontos:
·         A Europa acreditava ter um povo superior desde o nascimento: pessoas de etnia branca;
·         A Europa julgava conhecer a única e verdadeira fé religiosa: o cristianismo;
·         A Europa acreditava possuir o mais avançado estágio de desenvolvimento técnico, científico e artístico.
            Com esse conjunto de idéias, os europeus justificaram a brutal conquista dos povos da América, da África e da Ásia. Era o preço pago para se exportar a civilização européia.
 A conquista do Novo Mundo gerou conseqüências marcantes nos campos econômico, político e cultural da vida européia. Vejamos cada uma delas.
 Economia: grandes lucros para a burguesia
A burguesia comercial européia obteve grandes lucros com a conquista e a colonização da América. O eixo econômico europeu, antes concentrado no mar Mediterrâneo, deslocou-se para portos do oceano Atlântico, como os de Lisboa, Sevilha e Cádiz, que mantinham comércio direto com as colônias da América.
 Política: fortalecimento dos Estados
As nações que participaram da expansão marítimo-comercial, nos séculos XV e XVI, tornaram-se as mais poderosas da Europa. Pelo pioneirismo, destacaram-se Portugal e Espanha. Posteriormente, sobressaíram-se França, Inglaterra e Holanda.
Disputando os novos mercados comerciais, geradores de lucros e riquezas, esses países entraram num período de grande concorrência e rivalidades.
 Cultura: progresso científico
A conquista e a exploração da América impulsionaram o progresso de vários setores da cultura européia. Para as longas viagens marítimas, novos conhecimentos e técnicas tiveram que ser desenvolvidos e aperfeiçoados: caravelas, mapas, bússolas, astrolábio etc. Além disso, ampliaram-se os conhecimentos sobre astronomia, geografia, fauna, flora etc.
O contato com novas terras e novos povos exerceu grande influência sobre a filosofia, as artes e a ciência européias.
 Visão dos vencidos: os indígenas
Antes da chegada de Colombo, diversos povos viviam na América: os povos pré-colombianos. Essa denominação tem como base a chegada de Colombo ao continente americano - aliás, um referencial europeu.
Em fins do século XV, havia no continente americano mais de 3 mil nações indígenas. Muitas dessas nações eram aparentadas, outras eram bem diferentes entre si. Falavam línguas diversas, tinham culturas distintas.
 Povos pré-colombianos
Apaches, sioux e iroqueses (América do Norte), astecas e maias (América Central), incas, tupis, jês e nuaruaques (América do Sul), entre outros, habitavam o continente americano, de norte a sul.
Vejamos alguns aspectos de três desses povos pré-colombianos: maias, astecas e incas.
 Maias
A civilização maia, que se desenvolveu na península do Yúcatán, na América Central, alcançou seu apogeu no século VII.
A economia dos maias baseava-se principalmente no cultivo de milho, feijão e batata-doce. Eles não conheciam o uso do ferro, da roda, do arado e do transporte realizado por animais. E a sociedade era dirigida por poderosos sacerdotes.
No setor cultural, os maias construíram grandes templos, pirâmides e observatórios de astronomia; criaram um calendário bastante preciso e um sistema de escrita; desenvolveram a pintura mural e a arte cerâmica.
Na época da chegada do colonizador espanhol (final do século XV), a civilização maia estava sendo dominada pelos astecas.
 Astecas
A civilização asteca desenvolveu-se a partir do século XII, na região do atual México. Povo guerreiro, os astecas eram governados por um rei poderoso, que vivia na cidade de Tenochtitlán (atual cidade do México).
Plantavam milho, feijão, cacau, algodão, tomate e tabaco. Além disso, comercializavam bens, como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Desconheciam o uso do ferro, da roda e dos animais de carga. Dominavam, entretanto, a técnica da ourivesaria (trabalhos manuais em ouro), da cerâmica e da tecelagem.
Os astecas construíram grandes templos religiosos, desenvolveram uma escrita primitiva e um calendário próprio.
A história da conquista do Império Asteca, pelos espanhóis, teve início em fevereiro de 1519, quando Hernán Cortês desembarcou na península do Yúcatán. Informado da grande quantidade de ouro existente no Império Asteca, Cortês decidiu atacá-lo. Combinando violência e habilidade, Cortês prendeu o imperador asteca, Montezuma, e saqueou a cidade de Tenotchitlán.
 Incas
A civilização inca desenvolveu-se nas regiões que hoje correspondem ao Peru, ao Equador, à Bolívia e ao norte do Chile, alcançando seu período de maior esplendor por volta do século XIV. O Império Inca chegou a ter uma população de 20 milhões de habitantes.
O Império Inca, com capital na cidade de Cuzco (cordilheira dos Andes), era governado por um imperador considerado um deus, o filho do Sol (o Inca).
Para governar, o Imperador Inca contava com chefes militares, governadores de províncias, sacerdotes e muitos funcionários.
A economia dos incas baseava-se no cultivo de milho, batata e tabaco. Desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre; sabiam trabalhar metais preciosos, como o ouro e a prata, e utilizavam a lhama como animal de carga. Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos e canais de irrigação. Não desenvolveram um sistema completo de escrita, mas sabiam registrar números e acontecimentos através dos quipos (cordões coloridos nos quais se davam nós como forma de registro de informações).
A conquista do Império Inca foi iniciada a partir de 1531, por Francisco Pizarro. Em 1533, Pizarro conseguiu invadir a capital inca, desestabilizando todo o Império.
 Conquista sangrenta
Quantos milhões de pessoas viviam na América antes da chegada do europeu no final do século XV? É impossível responder a essa pergunta com precisão.
Calcula-se, entretanto, que existia em todo o continente americano (com 42 milhões de km') uma população de aproximadamente 88 milhões de habitantes, concentrada principalmente na América Central e no norte da América do Sul. Era uma massa populacional então correspondente a cerca de 20% da humanidade.
Também são variadas as estimativas sobre a população indígena total que vivia no Brasil. Algumas indicam cerca de 2,5 milhões de índios, no início do século XVI, enquanto outras apontam aproximadamente 5 milhões.
Nesse mesmo período, Portugal e Espanha não possuíam, juntos, 11 milhões de habitantes. E foram principalmente portugueses e espanhóis que conquistaram brutalmente os povos americanos. Uma das mais sangrentas conquistas registradas em toda a história humana.
 Formas de violência
Embora tenha resistido, lutando bravamente, a população nativa da América foi drasticamente reduzida num curto período de tempo (cerca de 50 anos). Por meio da violência militar, da violência econômica e da violência cultural, metade, ou até dois terços, da população dos povos pré-colombianos foi dizimada.
 Violência militar: morte e terror pelas armas
As armas dos conquistadores europeus eram superiores às dos povos pré-colombianos. Essa superioridade verificou-se no: uso da pólvora - com as armas de fogo (mosquete, arcabuz, canhão), o conquistador evitava o combate corpo a corpo. Além disso, o tiro provocava enorme susto devido à explosão. Todas essas armas eram desconhecidas dos povos pré-colombianos:
·         Uso do cavalo - o cavalo dava grande mobilidade ao conquistador durante os combates. Animal desconhecido dos povos da América, provocava grande pavor. No princípio da conquista, os índios supunham que cavaleiro e cavalo formavam um só conjunto, inseparáveis um do outro. Um cacique indígena, por exemplo, cortou a cabeça do cavalo do espanhol Pedro Alvarado pensando que, desse modo, cortava também a cabeça do conquistador;
·         uso do aço - com armas feitas de aço (espadas, lanças, punhais, escudos, alabardas), o conquistador dispunha de instrumentos resistentes tanto para a defesa quanto para o ataque contra os nativos.
Do lado dos povos indígenas, as principais armas empregadas eram arcos, flechas envenenadas, pedras, lanças, machados e atiradeiras de pedras.
            A superioridade do armamento europeu não explica a vitória do conquistador sobre os nativos americanos. Os índios eram numericamente superiores, chegando a representar cerca de 500 a 1000 índios para cada europeu.
Na luta contra os nativos, o conquistador contou também com a chamada 'guerra microbiana". Isto é, diversos doenças infecciosas trazidas pelo europeu (sarampo, tifo, varíola, malária, gripe etc.) eram letais para os índios, que não tinham resistência imunológica a elas. Tais doenças provocavam grandes epidemias, matando aldeias inteiras.
Contaminado por essas doenças, que ignorava e não sabia combater, o indígena sofria duplo impacto (físico e psicológico), pois supunha, muitos vezes, estar sendo castigado pelos seus deuses. Desse modo, entregava-se ao mais desolador sentimento de apatia.
 Violência econômica: desorganização da produção
O conquistador europeu impôs aos povos pré-colombianos costumes que modificaram bastante o modo de vida de suas comunidades.
Populações inteiras foram aprisionadas e removidas de suas regiões de origem para trabalhar como escravos para o conquistador. Milhares de famílias indígenas foram desmembradas. Pais foram separados dos filhos, maridos foram separados das mulheres.
Fora de seu meio natural, a população indígena sofreu com as mudanças no tipo de alimentação e no ritmo de trabalho. Enfim, a economia indígena foi completamente desestruturada.
 Violência cultural: destruição do modo de vida
Considerando-se superior aos povos conquistados, o europeu oprimiu de todas as maneiras os nativos americanos. Impôs-lhes os elementos básicos da cultura européia: idioma; religião; normas jurídicas; idéias e práticas sobre política e economia; padrões científicos e artísticos.
Já no momento da chegada, o conquistador europeu fincou no Brasil e na América espanhola a cruz católica. Esse ato simbólico, que marcava a posse da terra em nome do rei da Espanha ou de Portugal, assinalava, também, o início da conquista cultural dos indígenas.
De modo geral, o padre e o soldado andavam juntos - a cruz e a espada unidas, para subjugar os povos indígenas.
Ilustrativo desse processo são as palavras do padre Anchieta (1534-1597), célebre missionário jesuíta que veio da Europa para participar da evangelização dos nossos índios: "Pouco fruto se pode obter deles se a força do braço secular não acudir para domá-los. Para esse gênero de gente não há melhor pregação do que a espada e a vara de ferro."
Diante da dificuldade de convencer o índio adulto a aceitar a nova doutrina religiosa, os padres dedicaram-se às crianças indígenas. Separados de suas famílias, os pequenos índios eram levados a escolas para aprender o catecismo e outros elementos da cultura européia.
Desse modo, o conquistador foi impondo seus valores e conhecimentos aos povos americanos. As tradições indígenas, festas, crenças e costumes foram sendo gradualmente destruídos.

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