quinta-feira, 26 de novembro de 2020

UNIFICAÇÃO ITALIANA E ALEMÃ

 

 Até a segunda metade do século XIX, a península Itálica e o território da atual Alemanha estiveram divididos entre vários Estados independentes. Nessas regiões, então, iniciou-se um processo de centralização política. Ao final de algumas décadas, estariam formadas a Itália e a Alemanha.

A unificação ocorreu, nesses dois países, de forma conflituosa e alterou profundamente o cenário político e econômico europeu.

 A situação da península Itálica

Até 1870 não existia uma Itália, mas diversos reinos independentes. Após o Congresso de Viena, em 1815, o território da península Itálica passou a ser em grande parte dominada por franceses e austríacos e pela Igreja católica.

Cada um dos Estados da península era governado por uma dinastia, geralmente tradicional e autoritária. Por exemplo: a família Bourbon, descendente de antigos reis da França, dominava a região de Nápoles; os Habsburgos, antiga família de origem austríaca, controlavam a Lombardia e Veneza.

No norte da península, o reino de Piemonte-Sardenha era governado pela tradicional dinastia de Savóia. A região diferenciava-se das demais por ter um acentuado desenvolvimento industrial e comercial, cidades populosas e uma considerável rede ferroviária. Além disso, sua burguesia era forte e influente politicamente. Os burgueses consideravam fundamental, para o incremento das atividades econômicas, a formação de um amplo mercado consumidor para seus produtos. Por isso, tinham interesse na unificação da península.

Assim, foi no reino de Piemonte-Sardenha, o mais forte do norte da península, que teve início o movimento pela unificação.

O Reino da Itália

Um dos principais personagens da unificação italiana foi Giuseppe Mazzini, republicano que criou o movimento jovem Itália.

Em 1848, o rei do Piemonte-Sardenha, Carlos Alberto, tentou a unificação, declarando guerra à Áustria, mas foi derrotado.

Em 1852, o conde Cavour, primeiro-ministro do rei Vítor Emanuel II (filho de Carlos Alberto), apoiado pelos partidários da unificação, retomou a luta. Antes de declarar guerra à Áustria, adotou algumas medidas fundamentais: fortalecimento da economia e obtenção do apoio da França contra os austríacos.

Cavour pediu apoio a Napoleão III, da França, pois estava convencido de que sem a ajuda de uma grande potência seria impossível derrotar a Áustria. Napoleão III, movido pelo interesse em compensações territoriais, financeiras e comerciais, acolheu o pedido.

A guerra contra a Áustria começou em 1859, com os piemonteses aliados aos franceses e auxiliados por movimentos populares. Esses movimentos foram liderados pelo revolucionário Giuseppe Garibaldi.

Os piemonteses e seus aliados derrotaram a Áustria, que cedeu a região da Lombardia. Napoleão III, porem, pressionado pela Prússia e pelos católicos franceses, retirou seu apoio à causa da unificação italiana. Em contrapartida, as vitórias militares de 1859 tiveram grande repercussão em diversas partes da península Itálica. A população de pequenos reinos que pertenciam ao papa, Como Toscana, Parma, Módena e Romagna, começou a mobilizar-se com o objetivo de unir esses Estados ao Piemonte. Quase ao mesmo tempo, Garibaldi e um corpo de voluntários, chamados camisas vermelhas, invadiram e ocuparam o Reino das Duas Sicílias, no sul. Em seguida, entraram em Nápoles e obrigaram o rei Francisco II a fugir.

Enquanto isso, Vítor Emanuel II ocupou parte dos Estados Pontifícios. Em 1861 esses territórios foram anexados à Alta Itália, formando-se assim o Reino da Itália. Faltavam apenas o reino de Veneza e a cidade de Roma.

A conquista de Veneza e de Roma

Veneza naquela época estava ocupada pelos austríacos. Roma era capital do Estado da Igreja e protegida por tropas francesas.

Em 1866 tornou-se possível a conquista de Veneza, em conseqüência da guerra entre a Áustria e a Prússia. Os italianos aliaram-se aos prussianos contra os austríacos, que foram obrigados a ceder o domínio da cidade.

Em 1870, França e Prússia entraram em guerra, e as tropas francesas que estavam em Roma foram chamadas às pressas para combater. Os italianos aproveitaram então a oportunidade e tomaram a cidade. Assim, Roma tornou-se a capital da Itália unificada. O papa Pio IX refugiou-se na área da Basílica de São Pedro, recusando-se a reconhecer o Estado italiano unificado.

Em 1929 foi assinado o Tratado de Latrão, pelo qual Benito Mussolini, que então governava o país, indenizou a Igreja, cujo papa era Pio XI, pelos prejuízos sofridos e concedeu-lhe a soberania do território da praça de São Pedro. Criou-se assim o Estado do Vaticano, e a Igreja restabeleceu relações diplomáticas com o governo italiano.

 A situação dos Estados germânicos

Em 1815 o Congresso de Viena dividiu o território germânico em 39 Estados, formando a Confederação Germânica. O poder pertencia teoricamente a uma assembléia, a Dieta de Frankfurt, que reunia os representantes de todos os Estados. Essa assembléia, no entanto, não tinha poder efetivo, pois quem de fato mandava eram os representantes dos grandes Estados, principalmente a Áustria e a Prússia.

A Áustria, cuja população era quase toda católica, opunha-se à unificação; enquanto a Prússia, o mais rico dos Estados germânicos e com maioria protestante, queria a unificação para melhor exercer sua influência.

Em 1834, por iniciativa da Prússia, foi criado o Zollverein (união aduaneira dos Estados germânicos). A maioria dos Estados tomou parte nessa associação, mas a Áustria negou-se a aderir, o que provocou o enfraquecimento de sua influência entre os demais Estados. A consolidação do Zollverein favoreceu o desenvolvimento industrial, principalmente da região da Prússia.

 Bismarck

Em 1862, o rei da Prússia, Guilherme I, nomeou para o cargo de primeiro-ministro o diplomata Otto von Bismarck, conhecido como chanceler de ferro. Defensor da unificação alemã sob a liderança da Prússia, Bismarck queria maior desenvolvimento industrial para o seu Estado. Para ele, a unificação dos Estados germânicos teria de ser alcançada pela força militar.

Em certa ocasião, declarou: "Os grandes problemas da época não se resolvem com discursos nem com votação de maiorias, mas a ferro e sangue. A Alemanha não deposita esperanças no liberalismo da Prússia, e sim em seu armamento".

Fiel ao seu princípio militarista, Bismarck reorganizou o exército, dobrou o seu efetivo (passou a ter 400 mil homens) e reequipou-o com potentes armamentos.

A unificação dos Estados germânicos foi alcançada por Bismarck em etapas sucessivas. As principais foram:

·         Guerra dos Ducados - os ducados de Schleswig e Holstein, habitados quase que exclusivamente por alemães, estavam em poder da Dinamarca. Em 1864, prussianos e austríacos aliaram-se para lutar contra os dinamarqueses. Estes acabaram cedendo os ducados. A Áustria ficou com Holstein e a Prússia com Schleswig.

·         Guerra Áustro-Prussiana - Bismarck não gostou da divisão, pois queria os dois territórios para a Prússia. Usando como pretexto a má administração em Holstein, declarou guerra à Áustria, em 1866. Os austríacos foram facilmente vencidos, pois tinham de sustentar duas frentes de batalha, uma na península Itálica e outra na própria Áustria. Em conseqüência, tiveram de entregar Holstein à Prússia e Veneza à Itália.

A vitória sobre os austríacos permitiu à Prússia a anexação de todos os Estados germânicos localizados no norte da Confederação. Assim, em 1867, foi fundada a Confederação Germânica do Norte, presidida pelo rei da Prússia, em substituição à Confederação Germânica. Agora faltavam apenas os Estados do sul para completar a unificação. Mas a tentativa de anexá-los esbarrou na oposição de Napoleão III, imperador da França. Para concluir a unificação da Alemanha, a Prússia teria de enfrentar a França. 

·         Guerra Franco-Prussiana -  o pretexto para a Guerra Franco-Prussiana surgiu em 1870, quando uma revolução deixou o trono espanhol vago. A sucessão foi oferecida ao príncipe Leopoldo de Hohenzollern, parente do rei da Prússia. Napoleão III considerou tal candidatura uma ameaça ao território da França no caso de uma guerra com a Prússia. O imperador francês, então, exigiu a retirada da candidatura. Bismarck irritou-se com a exigência e passou um telegrama para Napoleão III. Este, sentindo-se atingido, declarou guerra à Prússia. Todos os representantes dos Estados germânicos, do norte e do sul, com exceção dos austríacos, apoiaram Bismarck.

Em 1870, exércitos de diversos Estados germânicos, sob o comando das tropas prussianas, invadiram a França. Os franceses foram derrotados e Napoleão III foi feito prisioneiro, fato que desencadeou a insurreição revolucionária conhecida como Comuna de Paris. Em 1871, Guilherme I, rei da Prússia, foi aclamado imperador da Alemanha no Palácio de Versalhes, na França. Estava assim concluída a unificação da Alemanha e era fundado o Império Alemão ou II Reich (império).

Ainda em 1871, pelo Tratado de Frankfurt,  a França foi obrigada a ceder à Alemanha os territórios da Alsácia e Lorena, ricos em jazidas de ferro e carvão. Além disso, teve de pagar aos alemães pesada indenização de guerra.

O tratado representou o início da expansão econômica da Alemanha na Europa.

 As consequências da unificação alemã

A unificação trouxe para a Alemanha uma fase de rápida expansão econômica e militar. Vários bancos e indústrias foram criados, e o exército passou a ser um dos mais temidos por outros países da Europa.

Além disso, a partir de 1880, os alemães se lançaram em busca de novas colônias em regiões ocupadas pela Inglaterra e pela França. Em 1884, Bismarck. presidiu a Conferência de Berlim, que tinha como objetivo realizar a partilha da África. Quase todas as regiões reivindicadas por Bismarck eram monopolizadas pelos ingleses, o que aumentou a disputa entre eles.

Em 1882, sob a orientação de Bismarck, Alemanha, Áustria e Itália formaram a Tríplice Aliança. As três potências estabeleceram, assim, um acordo de ajuda mútua, caso fossem atacadas pelas tropas francesas ou russas.

Em 1907, França, Rússia e Inglaterra formaram a Tríplice Entente, precavendo-se contra a Alemanha.

Dessa forma, as potências europeias agruparam-se em dois sistemas de alianças motivadas por interesses econômicos e políticos, um dos aspectos que contribuíram para a Primeira Guerra Mundial.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.