sexta-feira, 13 de julho de 2012

A GRANDE SENHORA FEUDAL DA IDADE MÉDIA

            O rei era a maior autoridade da época. Verdade, mas quem detinha o poder de fato era a Igreja, e até os reis dependiam de seu apoio para exercer sua autoridade. Não se pode pensar em feudalismo ou Idade Média sem considerar essa realidade: a Igreja foi o principal personagem, impondo os valores do cristianismo a todas as esferas da vida. Para compreender isso, é preciso distinguir o que entendemos hoje por poder, quase sempre relacionado à sabedoria política ou ao Estado, daqueles poderes que estavam concentrados nas mãos da Igreja.
            Durante a época feudal, pode-se dizer que a descrença era impossível: Deus era testemunha de qualquer compromisso, todas as atividades deviam ser abençoadas, as distrações precisavam de uma desculpa piedosa, o tempo era medido pelas horas da religião, as doenças e insetos que devoravam corpos e plantações deviam ser esconjurados e quando não se invocava diretamente a divindade as verdades só eram aceitas após o juramento sobre os evangelhos.
            Além disso, como conseqüência, a figura do demônio teve naqueles tempos sua época de maior prestigio. Ao mesmo tempo em que os homens procuravam não provocar a ira de Deus, deviam também esperar as armadilhas que o “Anjo do Mal” preparava em toda parte, ameaçando triunfar sobre a Terra, seduzindo homens, mulheres e até gerando crianças...  Por isso, os fiéis, se quisessem merecer a Cidade de Deus, deveriam abrir mão da Cidade dos Homens, ou melhor, deixar que suas vidas fossem conduzidas pelos intermediários entre eles e a divindade.  E na luta do Bem contra o Mal, a vitória coube a Igreja.
            Enquanto o rei e a nobreza tinham suas propriedades divididas por casamentos, heranças, favores e lutas constantes, a Igreja pôde acumular entre 20 e 30% de todas as terras.
            Um texto do século VII mostra como a Igreja, assim como os senhores a ela não ligados procedia para fazer crescer sua riqueza. O vassalo, que assumia esta condição por toda a sua vida, assim se expressava: “Ao venerável padre em Cristo, o senhor abade do mosteiro de tal e a toda a sua congregação ai residente. Eu, em nome de Deus, venho até junto de vós com um pedido de precário (contrato através do qual se obtinha o beneficio, ou seja, a concessão para cultivar uma terra para o sustento). De acordo com minha petição, decidiu a vossa vontade e a dos vossos irmãos que aquela vossa propriedade (...) me devesse ser entregue, por vosso beneficio, enquanto eu fosse vivo, para a usufruir e cultivar; o que assim fizestes. E prometo-vos pagar (em cada ano, uma importância em moeda). E se eu me descuidar ou aparecer tardiamente, que vos faça uma promessa de pagamento ou vos satisfaça (o devido), não perdendo eu esta propriedade enquanto for vivo. E depois da nossa morte voltará ao vosso domínio com melhoramentos e acréscimos (que eu tenha feito), sem qualquer reclamação por parte dos meus herdeiros”.
           Desta forma, a riqueza mantinha-se e crescia, principalmente devido à organização do clero, que não tinha problemas com heranças, casamentos e outras alianças, ao menos legalmente. Além disso, o recebimento de dízimos, as doações de penitencia, a cobrança de tributos feudais e o envolvimento direto com lutas territoriais, tudo isso somado fez com que a Igreja se transformasse na primeira riqueza da Idade Média. Soberana das almas, ela também se fez senhora de vasto território e das pessoas que nele viviam.
Adaptado de MICELI, Paulo. O feudalismo. SP: Atual/Unicamp, 1986, p.19 e 21.

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