quarta-feira, 3 de agosto de 2011

DÁ PRA SER FELIZ SEM ESTUDAR HISTÓRIA?

Há quem diga que não. Preferências à parte, é possível passar pelos vestibulares conhecendo mal a programação de História? Aí a questão se complica. No mês passado, o Supervisor de História pediu-me para bater um papo com alunos que estavam com dificuldades na matéria. Essa atividade acabou se estendendo, envolvendo a participação de outros professores. Ora, o nível de sofisticação dos vestibulares tem exigido dos professores e alunos um esforço tal, que tem deixado preocupados até mesmo alunos que aspiram as carreiras da área de Humanidades. Resolvi registrar algumas reflexões resultantes das reuniões com os alunos. Acho que isso pode ajudá-los a enfrentar os fantasmas da História.
Problemas comuns
Quem encontra barreiras no estudo de História - e se preocupa em superá-las - deve, antes de tudo, localizar os problemas que se apresentam. A partir daí, há que procurar identificar as origens deles. Dessa forma, fica fácil adotar os procedimentos pedagógicos adequados para suplantar bloqueios. Os problemas mais comuns são os seguintes:
O mistério: "Professor, eu não consigo entender História." Eis uma queixa que eu já me acostumei a ouvir. A História parece um enigma intransponível: não tem regras nem fórmulas; os métodos, então, são simplesmente invisíveis. É difícil gostar de uma coisa que não se entende.
A rejeição: "Eu não gosto de História." Para muita gente, só a idéia de enfrentar um livro de História já sugere um grande sacrifício. As leituras parecem intermináveis e as tarefas parecem difíceis mesmo antes de conhecidas.
O tempo: "Demora muito pra estudar." Outras disciplinas parecem tão práticas. História requer tempo demais, cansa e atrapalha a programação dos horários de estudo. Acaba ficando por último e, freqüentemente, não dá para cumprir as tarefas. É angustiante!
A fixação: "Eu até entendo, mas logo depois esqueço tudo." É a terrível dificuldade para memorizar as informações. Fica complicado trabalhar com assuntos que dependem de dados anteriores. Aí surge um círculo vicioso: não se consegue fixar conhecimento porque é difícil entender; e é difícil entender porque a matéria passada não foi fixada.
A redação: "Eu estudo e entendo, mas na hora de responder às questões, eu não consigo." Resultado: respostas confusas ou incompletas. Como recurso freqüente, as pessoas tendem a produzir esquemas pouco claros e inúteis.
Origem dos Problemas
Assim como os problemas apontados se sobrepõem, suas origens costumam estar com freqüência associadas. Podemos assinalar basicamente quatro aspectos: bagagem escolar deficiente, vocabulário limitado, vícios de análise e preconceitos. É raro encontrar quem gostava de História e, de repente, deixou de gostar. Normalmente, a rejeição vem de longe, e neste caso, infelizmente, a escola tem suas responsabilidades. Não é raro ouvir dos alunos que os seus professores desta matéria eram muito chatos. As aulas eram maçantes e os cursos, repetitivos. Ocorre, então, de se chegar às portas dos vestibulares conhecendo mal algo tido como chato e inútil.
A formação escolar deficiente passa quase sempre pelo domínio da língua. Lendo e escrevendo mal, inevitavelmente surgem dificuldades em todas as disciplinas que exigem muitas leituras. O vocabulário fica limitado, e superar esta falha torna-se trabalhoso. Quem tem esse tipo de dificuldade, corre o risco de se dar mal também em matérias como Literatura, Geografia e Biologia.
Os vícios de análise estendem-se desde a visão de que a História não passa de uma coletânea de datas, heróis, batalhas etc., até a imagem de que, para os historiadores, só o passado importa. O exercício da pesquisa fica, então, só para os que têm curiosidade acadêmica. Daí para a consolidação de preconceitos é meio passo. Quanta gente ainda comunga com a idéia de que História é "pura decoreba"? Tentar enfrentar um vestibular confiando no questionário decorado é caminho certo para o fracasso. 
Soluções possíveis
Consciente desses aspectos, pode-se adotar alguns procedimentos que devem se tornar básicos e sistemáticos. Ressalte-se que, para qualquer indivíduo, não é fácil estudar História. As análise são socioeconômicas, políticas e ideológicas. Há que as inter-relacionar. E isto, normalmente, é um tanto complexo. É preciso ler muito e escrever um pouco, não adianta procurar métodos milagrosos. É imprescindível pensar. É este desafio que pode tornar o estudo interessante. Os porquês têm que ser garimpados e decifrados.
Outra recomendação: jamais se deve ler um texto de História como se lê, por exemplo, um romance, por diletantismo ou puro prazer. Ao se lerem obras literárias, busca-se dominar o estilo do autor e compará-lo a de outro da mesma escola artística. A leitura de um texto histórico exige concentração nas análises apresentadas.
Se aparecem dificuldades em fixar as informações, cabe refletir: elas ocorrem só em História? Como são retidos os dados das outras disciplinas? Para o estudo consciente de nossa matéria, é fundamental saber selecionar o essencial e estabelecer uma relação entre os dados. No caso da História, a meada é o tempo.
Nas aulas, são expostas orientações de estudos sobre cada um dos itens da programação. Como estudar depois? Procedendo à leitura de apoio e enfrentando os exercícios de fixação. Mas é preciso ler criticamente, como apontamos nos parágrafos anteriores. É válido fazer resumos? Sim, mas não é preciso fazer aula por aula. É melhor esquematizar seus fichamentos. Se um determinado assunto ou período é ponto fraco no seu conhecimento, faça de conta que ele foi proposto para tema da prova de redação. Após ter tido as aulas, ter feito as leituras e preparado os fichamentos, você não é capaz de redigir vinte linhas sobre a questão? Nunca faça cópias de livros: é antipedagógico.
Se estiver difícil fichar os dados, analise os seguintes pontos:
O fato: o que aconteceu?
A situação: onde e quando ocorreu o fato? Ele é de caráter econômico ou político?
Os personagens: quem fez? Quem se opôs? Atenção: o que interessa são os personagens coletivos: classes sociais, partidos políticos, Igrejas, militares etc.
As causas: por que aconteceu tal fato?
As conseqüências: o que houve depois, direta ou indiretamente relacionado ao fato?
A crítica: o que eu penso disso? Não poderia ter sido de outra forma? Procure pensar no que não aconteceu, para entender melhor o que aconteceu. Embora em História não exista se, levantar hipóteses por vezes ajuda a compreender pontos obscuros. Desconfie! Será que o fato histórico está bem contado?
Finalmente, ao concluir seu estudo sobre uma determinada época, um ótimo expediente é montar uma linha de tempo. Todo o Período Colonial ou a Idade Média, por exemplo, podem ser sintetizados numa linha cronológica. Com isso, no mínimo, as revisões ficam mais fáceis. Quanto aos exercícios, lembre-se de que os testes servem bem para identificar possíveis confusões, enquanto que as questões dissertativas são fundamentais para treinar sua redação e desenvolver sua capacidade de síntese. Mas cuidado com a sobrecarga!
O desenvolvimento do tirocínio histórico pode ajudar a compreender melhor o tempo em que se vive. Quando a gente quebra as resistências, a História começa a aguçar a nossa curiosidade. Não é preciso trabalhar com História para se gostar dela. Aliás, descobrindo suas possibilidades e seus desafios, estudar História pode ser até divertido. E o aspecto lúdico do trabalho de pesquisa é muito importante, pois desperta a criatividade. A palavra-chave é raciocinar. Quem raciocina, retém. E quem retém, gosta de História. Entendeu?
Fonte: adaptado de sites da internet.