DOUTRINAS SOCIAIS OU IDEOLOGIAS DO
SÉCULO XIX
Num panorama de luta de classes
marcado por greves, reformas e revoluções, as doutrinas socialistas, contrárias
ao liberalismo e ao capitalismo e pregavam o restabelecimento da soberania do
trabalho sobre o capital. Vejamos as principais teses que disputavam o poder em nome dos interesses de classe.
LIBERALISMO
A partir da Revolução Industrial, a Europa se caracterizou pelas novas concepções de riqueza e trabalho contida no capitalismo, teorizado pelos economistas liberais clássicos Adam Smith e David Ricardo.
A descoberta de novas técnicas
permitiu a mecanização da produção, consolidando o sistema fabril com a
aplicação dos capitais em máquinas e matérias-primas. Porém, o alto custo das
máquinas e ferramentas industriais levava os empresários a utilizá-las
intensivamente, a fim de recuperar os investimentos iniciais e obter lucros.
Isso era feito mediante o emprego de de uma mão-de-obra barata e numerosa,
submetida a jornadas médias de trabalho de de dezesseis hoas por dia. Mulheres
e crianças eram largamente empregadas, uma vez que sua remuneração era inferior
à da mão-de-obra masculina.Portanto, os objetivos dessa ideologia era manter a
inviolabilidade da propriedade privada, buscar cada vez mais, lucros aviltantes
e tudo isso, é claro, às custas do trabalho humano - principal força
criadora de riquezas.A partir da Revolução Industrial, a Europa se caracterizou pelas novas concepções de riqueza e trabalho contida no capitalismo, teorizado pelos economistas liberais clássicos Adam Smith e David Ricardo.
SOCIALISMO UTÓPICO
Também chamado de socialismo romântico, surge no início do século XIX e concebe a organização de uma sociedade ideal sem conflitos ou desigualdades. Os pensadores buscam no Iluminismo e nos ideais da Revolução Francesa os fundamentos de sua crítica à sociedade capitalista. O inglês Thomas Morus é o precursor, com o livro Utopia (1516), no qual afirma que a propriedade particular é a fonte de toda injustiça social. Os principais representantes são o inglês Robert Owen, que defende a sociedade autogerida, e os franceses Charles Fourrier, que pretende uma organização em que todos vivam harmonicamente, e Saint-Simon, que idealiza o domínio da ciência sobre uma sociedade sem classes.
Robert Owen (1771-1858), rico industrial inglês que se transforma em um dos mais importantes socialistas utópicos. Sua contribuição nasce da própria experiência. Instala em New Lanark (Escócia) uma comunidade inspirada nos ideais utópicos. Monta uma fiação no centro de uma comunidade operária e promove a organização de serviços comunitários de educação, saúde e assistência social. A comunidade passa a se autogerir e todos os integrantes pertencem à mesma classe. No lugar de dinheiro circulam vales correspondentes ao número de horas trabalhadas.
Charles Fourrier (1772-1837) nasce em Besançon, França, filho de um comerciante de tecidos. Trabalha como comerciante mas acaba falindo e decide servir o Exército. Afastado da ativa por problemas de saúde, volta a trabalhar com o comércio e começa a escrever sobre questões sociais e econômicas.
Em 1822 lança o jornal O Falanstério (depois mudado para A Falange), defendendo sua idéias, influenciadas pelo idealismo de Rousseau. Propõem que a sociedade se organize em comunidades chamadas falanstérios, espécie de edifícios-cidades onde as pessoas trabalham apenas no que querem. Fourrier defende assim o fim da dicotomia entre trabalho e prazer.
Nos falanstérios os bens são distribuídos conforme a necessidade. A educação deve se adaptar às inclinações de cada criança e não existem restrições morais à prática de sexo.
Saint-Simon (1760-1825) é como fica conhecido o pensador francês Claude Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon, um dos principais socialistas utópicos. Nasce em Paris e entra para o Exército com 17 anos. Luta na guerra de Independência dos Estados Unidos e, de volta à França, abandona seu título de nobreza e adere à Revolução Francesa.
Retoma os estudos aos 40 anos, depois de ter sido preso durante o Período de Terror. Cursa medicina e a Escola Politécnica. Começa a se projetar como teórico do socialismo em 1802, com o livro Cartas de um habitante de Genebra a seus contemporâneos, no qual defende uma nova religião baseada na ciência e dedicada ao culto de Newton. Suas idéias são retomadas pelo tecnocratas no século XX.
SOCIALISMO CIENTÍFICO
Teoria política elaborada por Karl
Marx e Friedrich Engels entre 1848 e 1867. Essa corrente deriva da dialética
(resultado da luta de forças opostas) hegeliana e é influenciada pelo
socialismo utópico e pela economia inglesa. A partir do materialismo histórico,
prevê o triunfo final dos trabalhadores sobre a burguesia. Marx chama de
comunismo essa sociedade e de socialismo o processo de transição do capitalismo
ao comunismo. Materialismo histórico – Segundo Marx, o homem e suas atividades são reflexos das condições materiais que o cercam. Estas são determinadas pela História, que é resultado do confronto de classes sociais antagônicas que lutam pela hegemonia. A luta de classes é o motor da história e só desaparece com a instalação de uma sociedade comunista, sem divisão de classes ou exploração do trabalho, e baseada na solidariedade. O Estado é o instrumento pelo qual a classe dominante exerce essa hegemonia sobre as demais.
Karl Marx (1818-1883), filósofo, economista e militante revolucionário alemão de origem judaica. Estuda filosofia nas universidades de Berlim e Iena. Em 1842 assume em Colônia a chefia da redação do Rheinische Zeitung. Seus artigos pró-democracia irritam as autoridades e o levam a exilar-se em Paris dois anos depois. Ali conhece Friedrich Engels, com quem manteria colaboração até o fim da vida. Em 1848 o início de revoluções na França e na Alemanha coincide com a publicação do Manifesto comunista, em que Marx e Engels afirmam que a solidariedade internacional dos trabalhadores em busca de sua emancipação supera o poder dos Estados nacionais. Junto com Engels prega uma revolução internacional que derrube a burguesia e implante o comunismo, nova sociedade sem classes. Publica em 1867 o primeiro volume de sua obra mais importante, O capital.
Os volumes seguintes dessa obra, para a qual reuniu vasta documentação, seriam publicados somente depois de sua morte. Para Marx, o capitalismo é a última forma de organização social baseada na exploração do homem pelo homem. Marx é sustentado por Engels durante a maior parte de sua vida e morre no exílio em Londres.
Friedrich Engels (1820-1895), filho de um rico industrial de Barmen (Alemanha), é o principal colaborador de Karl Marx na elaboração das teorias do materialismo histórico. Na juventude, fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família. Quando estudante, adere a idéias de esquerda, o que o leva a aproximar-se de Marx.
Assume por alguns anos a direção de uma das fábricas do pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas obras principais, A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra, publicada em 1845. Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, o que lhe valeria a fama injusta de ser apenas um ajudante.
Escreve sozinho, porém, algumas das obras mais importantes para o desenvolvimento do que viria a ser chamado de marxismo, como Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia alemã, A evolução do socialismo de utopia a ciência e A origem da família, da propriedade privada e do Estado.
ANARQUISMO
Movimento que surge no século XIX, propondo uma organização da sociedade onde não haja nenhuma forma de autoridade imposta. Para os anarquistas, uma revolução não deve levar à criação de um novo Estado porque este seria sempre uma nova forma de poder coercitivo.
O anarquismo tem duas correntes importantes. Uma, pacífica, que tem como principal representante o francês Pierre-Joseph Proudhon. Para ele qualquer mudança social deve ser feita com base na fraternidade e na cooperação entre os homens. A outra corrente afirma que a modificação da sociedade só pode ser feita depois de destruída toda a estrutura social existente. Para isso é válida a utilização da violência e do terrorismo.
O russo Mikhail Bakunin, considerado
um dos principais teóricos e militantes do anarquismo, chega a participar de
atentados, influenciado por Serguei Netchaiev, um dos defensores dessa
corrente.Movimento que surge no século XIX, propondo uma organização da sociedade onde não haja nenhuma forma de autoridade imposta. Para os anarquistas, uma revolução não deve levar à criação de um novo Estado porque este seria sempre uma nova forma de poder coercitivo.
O anarquismo tem duas correntes importantes. Uma, pacífica, que tem como principal representante o francês Pierre-Joseph Proudhon. Para ele qualquer mudança social deve ser feita com base na fraternidade e na cooperação entre os homens. A outra corrente afirma que a modificação da sociedade só pode ser feita depois de destruída toda a estrutura social existente. Para isso é válida a utilização da violência e do terrorismo.
Mikhail Bakunin (1814-1876), anarquista russo, nasce em Premukhino, filho de um grande latifundiário. Em 1840 começa a estudar na Universidade de Berlim e no ano seguinte começa a se dedicar a atividades políticas. Entre 1843 e 1848 viaja por toda a Europa. Participa de movimentos revolucionários na Alemanha e acaba condenado à morte. Foge para a Rússia, onde é preso e deportado para a Sibéria, de onde foge para o Japão. Volta para a Europa e se envolve em movimentos revolucionários na Polônia e na Itália. Adere à Primeira Internacional. Em 1868 funda a Aliança Internacional Democrática Social, entidade de destaque na introdução do anarquismo na Espanha.
A partir de 1869 promove atentados junto com o russo Netchaiev. A intensa militância não impede que Bakunin deixe uma obra teórica. Propõe a revolução universal baseada no campesinato e defende o uso de violência.
Entre seus livros mais importantes estão Deus e o Estado, de 1871, Federalismo, socialismo e antiteologismo, de 1872, e O Estado e a anarquia (1873). Morre em Berna, Suíça.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), principal teórico do movimento anarquista, nasce em Besançon, França. Como sua família não tem condições de mantê-lo na escola, torna-se autodidata. Aos 18 começa a trabalhar como tipógrafo.
Em 1840 publica O que é a propriedade?, onde defende a idéia de que toda propriedade é uma forma de roubo. Sua crítica à sociedade passa a sensibilizar um grande número de trabalhadores e em 1848 ele é eleito para a Assembléia Nacional. Participa pouco das atividades parlamentares mas suas idéias, divulgadas também em seu trabalho como jornalista, contribuem para a transformação do anarquismo em movimento de massas.
Para ele a sociedade deve organizar sua produção e consumo em pequenas associações baseadas no auxílio mútuo entre as pessoas. Seus livros mais importantes são Sobre o princípio federativo, de 1863, e Sobre a capacidade política das classes trabalhadoras, de 1865. Morre de cólera em Paris.
Socialismo cristão
Preocupada com a miséria dos operários
diante do triunfo do liberalismo, a Igreja Católica começou a pregar o
catolicismo social ou socialismo cristão. Propunha reformas no capitalismo que
humanizassem a sociedade e impedissem a exploração dos trabalhadores. Seu
precursor foi o padre francês Robert
de Lamenais (1782-1854) e o reponsável pela doutrina foi o
papa Leão XIII,
que expôs a Encíclica
Rerum Novarum (Das coisas Novas) em 1891. Muito embora
defendesse uma distribuição mais ampla da propriedade privada, a Igreja
rejeitava o socialismo revolucionário e as mudanças estruturais da sociedade
capitalista.
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