A Questão Palestina
Palestina
(do original Filistina – “Terra dos Filisteus”) é o nome dado desde a
Antiguidade à região do Oriente Próximo (impropriamente chamado de “Oriente
Médio”), localizada ao sul do Líbano e a nordeste da Península do Sinai, entre
o Mar Mediterrâneo e o vale do Rio Jordão. Trata-se da Canaã bíblica, que os
judeus tradicionalistas preferem chamar de Sion.
A Palestina
foi conquistada pelos hebreus ou israelitas (mais tarde também conhecidos como
judeus) por volta de 1200 a.C., depois que aquele povo se retirou do Egito,
onde vivera por alguns séculos.
As duas
rebeliões dos judeus contra o domínio romano (em 66-70 e 133-135 d.C.) tiveram
resultados desastrosos. Ao debelar a primeira revolta, o general (mais tarde
imperador) Tito arrasou o Templo de Jerusalém, do qual restou apenas o Muro das
Lamentações. E o imperador Adriano, ao sufocar a segunda, intensificou a diáspora
e proibiu os judeus de viver em Jerusalém. A partir de então, os israelitas
espalharam-se pelo Império Romano; alguns grupos emigraram para a Mesopotâmia e
outros pontos do Oriente Médio, fora do poder de Roma.
A partir de
então, a Palestina passou a ser habitada por populações helenísticas
romanizadas; e, em 395, quando da divisão do Império Romano, tornou-se uma
província do Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino).
Em 638, a
região foi conquistada pelos árabes, no contexto da expansão do islamismo, e
passou a fazer parte do mundo árabe, embora sua situação política oscilasse ao
sabor das constantes lutas entre governos muçulmanos rivais. Chegou até mesmo a
constituir um Estado cristão fundado pelos cruzados (1099-1187). Finalmente, de
1517 a 1918, a Palestina foi incorporada ao imenso Império Otomano (ou Império
Turco). Deve-se, a propósito, lembrar que os turcos, e embora muçulmanos, não
pertencem à etnia árabe.
Em 1896, o
escritor austríaco de origem judaica Theodor Hertz fundou o Movimento Sionista,
que pregava a criação de um Estado judeu na antiga pátria dos hebreus.
Esse
projeto, aprovado em um congresso israelita reunido em Genebra, teve ampla
ressonância junto à comunidade judaica internacional e foi apoiado sobretudo
pelo governo britânico (apoio oficializado em 1917, em plena Primeira Guerra
Mundial, pela Declaração Balfour).
No início do
século XX, já existiam na região pequenas comunidades israelitas, vivendo em
meio à população predominantemente árabe. A partir de então, novos núcleos começaram
a ser instalados, geralmente mediante compra de terras aos árabes palestinos.
Durante a
Primeira Guerra Mundial, a Turquia lutou ao lado da Alemanha e, derrotada,
viu-se privada de todas as suas possessões no mundo árabe. A Palestina passou
então a ser administrada pela Grã-Bretanha, mediante mandato concedido pela
Liga das Nações.
Depois de
1918, a imigração de judeus para a Palestina ganhou impulso, o que começou a
gerar inquietação no seio da população árabe. A crescente hostilidade desta
última levou os colonos judeus a criar uma organização paramilitar – a Haganah
– a princípio voltada para a autodefesa e mais tarde também para operações de
ataque contra os árabes.
Apesar do
conteúdo da Declaração Balfour, favorável à criação de um Estado judeu, a
Grã-Bretanha tentou frear o movimento imigratório para não descontentar os
Estados muçulmanos do Oriente Médio, com quem mantinha proveitosas relações
econômicas; mas viu-se confrontada pela pressão mundial da coletividade
israelita e, dentro da própria Palestina, pela ação de organizações
terroristas.
Após a
Segunda Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes judeus tornou-se irresistível. Em
1947, a Assembléia Geral da ONU decidiu dividir a Palestina em dois Estados
independentes: um judeu e outro palestino. Mas tanto os palestinos como os
Estados árabes vizinhos recusaram-se a acatar a partilha proposta pela ONU.
Em 14 de
maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel, que se viu imediatamente
atacado pelo Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano (1ª Guerra
Árabe-Israelense). Os árabes foram derrotados e Israel passou a controlar 75%
do território palestino. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para
os países vizinhos. Atualmente, esses refugiados somam cerca de 3 milhões.
Os 25% restantes
da Palestina, correspondentes à Faixa de Gaza e à Cisjordânia, ficaram sob
ocupação respectivamente do Egito e da Jordânia. Note-se que a Cisjordânia
incluía a parte oriental de Jerusalém, onde fica a Cidade Velha, de grande
importância histórica e religiosa.
Damos a
seguir a cronologia dos principais acontecimentos subsequentes:
1947 – A ONU
aprova a partilha da Palestina em dois Estados – um judeu e outro árabe. Essa
resolução é rejeitada pela Liga dos Estados Árabes.
1948 – Os Judeus
proclamam o Estado de Israel, provocando a reação dos países árabes. Primeira
Guerra Árabe-Israelense. Vitória de Israel sobre o Egito, Jordânia, Iraque,
Síria e Líbano e ampliação do território israelense em relação ao que fora
estipulado pela ONU. Centenas de milhares de palestinos são expulsos para os
países vizinhos. Como territórios palestinos restaram a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia, ocupadas respectivamente por tropas egípcias e jordanianas.
1956 – Guerra
entre Israel e o Egito. Embora vitoriosos militarmente, os israelenses
retiraram-se da Faixa de Gaza e da parte da Península do Sinai que haviam
ocupado.
1964 – Criação
da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), cuja pretensão inicial era
destruir Israel e criar um Estado Árabe Palestino. Utilizando táticas
terroristas e sofrendo pesadas retaliações israelenses, a OLP não alcançou seu
objetivo e, com o decorrer do tempo, passou a admitir implicitamente a
existência de Israel.
1967 – Guerra
dos Seis Dias. Atacando fulminantemente em três frentes, os israelenses ocupam
a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (territórios habitados pelos palestinos) e
tomam a Península do Sinai ao Egito, bem como as Colinas de Golan à Síria.
1970 – “Setembro
Negro”. Desejando pôr fim às retaliações israelenses contra a Jordânia, de onde
provinha a quase totalidade das incursões palestinas contra Israel, o rei
Hussein ordena que suas tropas ataquem os refugiados palestinos. Centenas deles
são massacrados e a maioria dos sobreviventes se transfere para o Líbano.
1973 – Guerra do
Yom Kippur (“Dia do Perdão”). Aproveitando o feriado religioso judaico, Egito e
Síria atacam Israel; são porém derrotados e os israelenses conservam em seu
poder os territórios ocupados em 1967. Para pressionar os países ocidentais, no
sentido de diminuir seu apoio a Israel, a OPEP (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) provoca uma forte elevação nos preços do petróleo.
1977 – Pela
primeira vez, desde a fundação de Israel, uma coalizão conservadora (o Bloco
Likud) obtém maioria parla mentar. O novo primeiro-ministro, Menachem Begin,
inicia o assentamento de colonos judeus nos territórios ocupados em 1967.
1979 – Acordo de
Camp David. O Egito é o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel.
Este, em contrapartida, devolve a Península do Sinai ao Egito (cláusula
cumprida somente em 1982). Em 1981, militares egípcios contrários à paz com
Israel assassinam o presidente Anwar Sadat.
1982 – Israel
invade o Líbano (então em plena guerra civil entre cristãos e muçulmanos) e
consegue expulsar a OLP do território libanês. Os israelenses chegam a ocupar
Beirute, capital do Líbano. Ocorrem massacres de refugiados palestinos pelas milícias
cristãs libanesas, com a conivência dos israelenses.
1985 – As tropas
israelenses recuam para o sul do Líbano, onde mantêm uma “zona de segurança”
com pouco mais de 10 km de largura. Para combater a ocupação israelense,
forma-se o Hezbollah (“Partido de Deus”), organização xiita libanesa apoiada
pelo governo islâmico fundamentalista do Irã.
1987 – Começa em
Gaza (e se estende à Cisjordânia) a Intifada (“Revolta Popular”) dos palestinos
contra a ocupação israelense. Basicamente, a Intifada consiste em
manisfestações diárias da população civil, que arremessa pedras contra os
soldados israelenses. Estes frequentemente revidam a bala, provocando mortes e
prejudicando a imagem de Israel junto à opinião internacional. Resoluções da
ONU a favor dos palestinos são sistematicamente ignoradas pelo governo
israelense ou vetadas pelos Estados Unidos. A Intifada termina em 1992.
1993 – Com a
mediação do presidente norte-americano Bill Clinton, Yasser Arafat, líder da
OLP, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, firmam em Washington um
acordo prevendo a criação de uma Autoridade Nacional Palestina, com autonomia
administrativa e policial em alguns pontos do território palestino. Prevê-se
também a progressiva retirada das forças israelenses de Gaza e da Cisjordânia.
Em troca, a OLP reconhece o direito de Israel à existência e renuncia
formalmente ao terrorismo. Mas duas organizações extremistas palestinas (Hamas
e Jihad Islâmica) opõem-se aos termos do acordo, assim como os judeus
ultranacionalistas.
1994 – Arafat
retorna à Palestina, depois de 27 anos de exílio, como chefe da Autoridade
Nacional Palestina (eleições realizadas em 1996 o confirmam como presidente) e
se instala em Jericó. Sua jurisdição abrange algumas localidades da Cisjordânia
e a Faixa de Gaza – embora nesta última 4 000 colonos judeus permaneçam sob
administração e proteção militar israelenses. O mesmo ocorre com os
assentamentos na Cisjordânia. Na cidade de Hebron (120 000 habitantes
palestinos), por exemplo, 600 colonos vivem com o apoio de tropas de Israel.
Nesse mesmo ano, a Jordânia é o segundo país árabe a assinar um tratado de paz
com os israelenses.
1995 – Acordo
entre Israel e a OLP para conceder autonomia (mas não soberania) a toda a
Palestina, em prazo ainda indeterminado. Em 4 de novembro, Rabin é assassinado
por um extremista judeu.
1996 – É eleito
primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, do Partido Likud (antes denominado Bloco
Liked), que paralisa a retirada das tropas de ocupação dos territórios
palestinos e intensifica os assentamentos de colonos judeus em Gaza, na
Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, em meio à população predominantemente
árabe. O processo de pacificação da região entra em compasso de espera, ao
mesmo tempo em que recrudescem os atentados terroristas palestinos. Em Israel,
o primeiro-ministro (chefe do governo) é eleito pelo voto direto dos cidadãos.
1999 – Ehud
Barak, do Partido Trabalhista (ao qual também pertencia Yitzhak Rabin), é
eleito primeiro-ministro e retoma as negociações com Arafat, mas sem que se
produzam resultados práticos.
2000 – Israel
retira-se da “zona de segurança” no sul do Líbano. Enfraquecido politicamente,
devido à falta de progresso no camiho da paz, e também devido às ações
terroristas palestinas (não obstante as represálias israelenses), Barak
renuncia ao cargo de primeiro-ministro. São convocadas novas eleições, nas
quais ele se reapresenta como candidato. Mas o vencedor é o general da reserva
Ariel Sharon, do Partido Likud, implacável inimigo dos palestinos. Pouco antes
das eleições, começa nos territórios ocupados uma nova Intifada.
2001 – Agrava-se
o ciclo de violência: manifestações contra a ocupação israelense, atentados
suicidas palestinos e graves retaliações israelenses. Nesse contexto, Yasser
Arafat, já septuagenário, parece incapaz de manter a autoridade sobre seus
compatriotas ou de restabelecer algum tipo de diálogo com Israel, cujo governo
por sua vez mantém uma inflexível posição de força.
Em 2005, Israel decidiu retirar seus
colonos e militares da Faixa de Gaza, entregando sua administração à Autoridade
Nacional Palestina (ANP). Apesar disso, Israel continuou a controlar as
fronteiras e o acesso marítimo a Gaza.
Na Cisjordânia, pouco mudou já que a
política de assentamentos judaicos e a ocupação militar do território
continuaram. Ainda hoje, grande parte desse território palestino tem sua
administração civil e militar concentrada nas mãos de Israel.
Apesar da devolução de Gaza aos
palestinos, o território passou a ser o principal foco de problema do conflito
israelense-palestino, já que, em 2006, o Hamas, movimento fundamentalista
islâmico, venceu as eleições parlamentares palestinas. Em seguida, o Hamas
rompeu com o Fatah, organização política e militar palestina, tomando o
controle de Gaza, enquanto seu rival político mantinha o controle sobre a
Cisjordânia.
Visto como um grupo terrorista por
Israel, pelos Estados Unidos e por países europeus, o Hamas sofreu uma série de
sanções por parte desses países. O governo israelense ampliou a vigilância
sobre Gaza, aumentando seu controle sobre as fronteiras e restringindo a
circulação de produtos e pessoas entre os dois territórios. Desde então, houve
uma série de confrontos abertos entre as duas partes: o governo israelense e o
Hamas.
Em geral, os confrontos envolvem o
lançamento de foguetes pelo Hamas a cidades de Israel e ataques de Israel a
Gaza, por meio de bombardeios e ofensivas terrestres (quando militares
israelenses entram no território palestino).
Além dos confrontos abertos que
resultaram em centenas de mortes (na maioria, de palestinos), a relação entre
israelenses e palestinos nas últimas décadas tem sido marcada por atentados,
conflitos entre militares israelenses e civis palestinos, intifadas (revoltas
populares) e tentativas de acordos de paz que sempre são emperradas por algum
motivo.
Entre os pontos de desacordo estão
a divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras
palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas
antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.
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