A REVOLUÇÃO FRANCESA
Revolução
que ocorreu na França entre 1789 e 1799 tem caráter político e social.
Constituiu-se de modo mais geral uma revolta contra a monarquia absoluta por
parte da burguesia com o apoio da população pobre. Os revolucionários tomam o
poder e acabam com os privilégios da aristocracia e do clero, liquidando as
últimas instituições feudais do Antigo Regime. Este movimento tem como
principais antecedentes, as crises econômicas e financeiras, insatisfação da
burguesia, a influência iluminista, a desigualdade social e a intransigência
das elites dominantes.
No final
do séc. XVIII, cerca de 90% da população francesa pertencia ao chamado Terceiro
Estado, que reunia grandes e pequenos burgueses, trabalhadores urbanos e
camponeses. Responsável pelo pagamento de pesados impostos que sustentavam o
Rei, o Clero (Primeiro Estado) e a Nobreza (Segundo Estado). Além disso, a
população sofria os abusos de Luís XVI que governava a França nos moldes
Absolutistas. A burguesia que detinha o poder econômico, mas perdia as disputas
políticas para os outros Estados, estimulada por ideais iluministas, insurge
contra os privilégios e a dominação da minoria social.
Em meio a
uma serie de crises políticas e econômicas, em junho de 1789, o Terceiro Estado
e alguns membros do clero e da nobreza abandonam os Estados Gerais e declara-se
em Assembleia Nacional, com a disposição de liquidar o absolutismo e realizar
reformas que garantam a participação popular na política, trazendo profundas
modificações na estrutura social. A população se envolve empolgada pelas ideias
iluministas defendidas pela burguesia, eclodindo revoltas em Paris e no
interior, causadas naquele momento pelo aumento do preço do pão. Resultam na
tomada da Bastilha em 14 de julho, dando inicio a Revolução.
A partir
daqui a Revolução pode ser dividida em ter períodos distintos, que apresentam
características próprias, mas também conservam aspectos que permanecem,
transcendendo por toda a revolução.
Num
primeiro momento, tem-se a elaboração de uma Constituição para a França,
abolindo-se uma serie de direitos feudais ainda existentes, no entanto a
Constituição mantinha a Monarquia, instituindo um divisão de poderes (segundo a
concepção iluminista: executivo, legislativo e judiciário). Além disso, proclama
a igualdade civil e confisca os bens da Igreja. Este primeiro período da
Revolução, considerado mais moderado, tem como característica marcante a
substituição de uma sociedade feudal e aristocrática por uma sociedade
capitalista e burguesa, através de uma não interferência do Estado na economia
(liberalismo econômico) e a adoção de um liberalismo político (entretanto a
participação política foi assegurada preferencialmente a burguesia excluindo o
restante da população). É deste período também a Declaração dos Direitos do
Homem, que assegurava que "os homens nascem livres e iguais em direito”,
que “todos os cidadãos tem direito a liberdade, a propriedade e a resistência a
opressão”. Era a igualdade de direitos, que não quer dizer igualdade de fato.
Na Assembleia,
a burguesia tinha de enfrentar a oposição de aristocratas (a direita) que
queria frear a revolução e os democratas (a esquerda) que pretendia acelerar o
processo revolucionário. O Rei e seus aliados queriam esmagar a revolução. Já
os camponeses que se viram obrigados a pagar pela extinção dos direitos
feudais, rebelavam-se com extrema violência. A fuga do rei Luís XVI em 1791
radicalizou a revolução. As monarquias absolutas europeias temendo que o mesmo
viesse acontecer em seus países aliaram-se aos emigrados franceses visando
atacar os revolucionários franceses. Luís XVI e os monarquistas conseguem o
apoio da Prússia e da Áustria, mas são derrotados pelos revolucionários.
A unidade
política do Terceiro Estado contra o Antigo Regime dava em meio a estes
acontecimentos lugar a uma complexa composição, que se modifica em diferentes
momentos da revolução: girondinos (conservadores da alta burguesia, combatiam a
participação popular), jacobinos (pequena burguesia republicana radical) e os
da planície (oscilavam seu apoio entre girondinos e jacobinos segundo seus
interesses).
A
radicalização que ocorre a partir de agosto de 1792, foi uma resposta a
tentativa de acabar com a revolução, adicionada a fatores econômicos, marca o
inicio de um novo período revolucionário, quando se forma a Convenção Nacional
entre 1792 e 1794, que abole a Monarquia e proclama a Republica, quando os
girondinos perdem força para os jacobinos e os sans-culottes. A revolução
adquire caráter popular e é feita uma nova constituição (1792).
As
derrotas externas e a crise econômica propiciam a ascensão dos jacobinos. A
revolução tinha de avançar, os girondinos não compreenderam, por isso, foram
enviados a guilhotina pelo adversário que estava mais a esquerda. Pressionados
pelas camadas populares, os jacobinos intensificam o “regime do terror”
eliminando aqueles tidos como inimigos internos. Os Tribunais revolucionários
condenaram milhares de pessoas, que forma guilhotinadas, inclusive Luís XVI.
Sob o comando ditatorial de Robespierre, são criados o Comitê de Salvação
Publica e o Tribunal Revolucionário, encarregado de prender e julgar os
traidores, onde inclusive jacobinos como Danton foram acusados de
conspiradores. Em julho de 1794, numa manobra da Convenção, Robespierre é preso
e guilhotinado.
O fim da
supremacia jacobina em 1794 marca o inicio de um terceiro período, o ultimo da
revolução, onde os girondinos a aliados aos monarquistas instalam a alta
burguesia no poder e elaboram uma nova constituição para França (1795),
instituindo no governo o Diretório, que consolida as aspirações burguesas. O período caracteriza-se por uma
contrarrevolução burguesa frente ao avanço popular nos espaços sociais e
políticos.
Com o
Diretório, a burguesia se consolidou no poder, porem precisava se cuidar, pois
enfrentava a direita os monarquistas e a esquerda os remanescentes jacobinos.
Para manter seus privilégios conquistados e afastar as ameaças externas, a
burguesia capitalista entrega o governo em 1799 a Napoleão Bonaparte, que
desfechou o golpe de 18 Brumário, iniciando o Consulado restabelecendo a ordem
no país.
Numa
visão geral dos períodos da revolução, aliás, de uma revolução de varias
revoluções, podemos dizer que de um movimento inicial encabeçado pela burguesia
para reformular a ordem do Estado e da sociedade francesa do séc. XVIII
evolui-se para um período intermediário, no qual a Revolução de certa forma
fugiu ao controle e as aspirações burguesas, tornando-se um movimento de massa,
que foi contornado restabelecendo-se a hegemonia burguesa no poder no final da
revolução. A revolução assistiu a montagem de um Estado nacional moderno,
baseado nos princípios de liberdade de empreendimento e lucro. “À Revolução
Francesa consigna-se desta maneira um lugar excepcional na historia do mundo contemporâneo.
A revolução burguesa clássica constitui, para a abolição do regime senhorial e
da feudalidade, o ponto de partida da sociedade capitalista e da democracia
liberal na historia da Franca”.(SOBOUL, 1989, p.109).
A
Revolução Francesa pode ser enquadrada no que se chama de revoluções burguesas,
apesar de ter sido um movimento de massa. Seus ideais se fizeram sentir em todo
mundo. O séc. XIX inteiro, o século que deu a civilização e a cultura a toda a
humanidade, decorreu sob sua influencia.
A Revolução Francesa foi o auge de um amplo
movimento revolucionário que consolidou uma sociedade capitalista, liberal e
burguesa, que atingiu outros países como a Inglaterra (Revolução Puritana e
Gloriosa), os Estados Unidos (Independência) e chegou até a França com maior
violência e ideais mais bem delineados. Além disso, criou novos símbolos,
baseados no lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, nem sempre levado a
pratica nos inúmeros movimentos sociais posteriores que procuraram imita-la. Albert Soboul, concluindo seu livro, nos dá
uma ideia quanto é marcante a influencia deste movimento na nossa historia:
“(...) Revolução
camponesa e popular, porque antifeudal sem compromisso tendeu por duas vezes a
ultrapassar seus limites burgueses: no ano II, tentativa que, apesar do malogro
necessário, conservou por muito tempo valor profético de exemplo, e quando da
Conspiração pela Igualdade, episodio que se situa na origem fecunda do
pensamento e da ação revolucionários contemporâneos. Assim se explicam indubitavelmente
esses vãos esforços no sentido de negar a Revolução Francesa, perigoso
precedente, sua realidade histórica ou especificidade social e nacional. Mas,
assim, também se explicam o sobressalto sentido pelo mundo e a ressonância da
Revolução Francesa na consciência dos homens do nosso século. Esta lembrança,
só por si, é revolucionária: ela ainda nos exalta”.(SOBOUL,1989,p.109).
Os movimentos de independência das
colônias latino-americanas, as revoluções liberais de 1830 e 1848 e os
movimentos nacionalistas que agitaram a Europa durante o séc. XIX são reflexos
dessas transformações, que marcaram definitivamente a transição do sistema
feudal para o capitalismo.
SOBOUL,Albert.
A Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1989.
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