Rotas da escravidão
É difícil saber quantos africanos
foram trazidos para o Brasil ao longo de três séculos de tráfico negreiro.
Muitos registros que poderiam tornar os dados mais precisos foram perdidos ou
destruídos. As estimativas indicam que entre 3.300.000 e oito milhões de
pessoas desembarcaram nos portos brasileiros para serem vendidas como escravas,
de meados do século XVI até 1850, quando o tráfico foi efetivamente abolido
pela Lei Eusébio de Queiroz.
As quatro principais rotas dos navios
negreiros que ligaram o continente africano ao Brasil foram as da Guiné, Mina,
Angola e Moçambique. Elas concentravam o comércio de seres humanos que, na
maioria dos casos, eram aprisionados em guerras feitas por chefes tribais, reis
ou sobas africanos para esse fim. Os traficantes, principalmente portugueses,
mas também de outras nações europeias e posteriormente brasileiros, obtinham os
prisioneiros em troca de armas de fogo, tecidos, espelhos, utensílios de vidro,
de ferro, tabaco e aguardente, entre outros. Os navios, dependendo do tipo,
traziam de 300 a 600 cativos por vez. Entre 10% e 20% deles morriam na viagem.
Rota da Guiné
No século XVI, a Alta Guiné foi o
principal núcleo de obtenção de africanos para serem escravizados pelos
traficantes portugueses. De Cabo Verde, saíam navios com cativos vindos
principalmente da região onde hoje se situam Guiné-Bissau, Senegal, Mauritânia,
Gâmbia, Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim. Essa área era habitada por
diferentes povos, entre os quais os balantas, fulas, mandingas, manjacos,
diolas, uolofes e sereres.
O destino desses prisioneiros, no
Brasil, eram as regiões Nordeste e Norte. Mas a Rota da Guiné teve menor
impacto sobre a formação da população brasileira do que as outras rotas, pois a
necessidade de mão de obra nas Américas ainda era pequena no primeiro século da
colonização.
Rota da Mina
A fortaleza de São Jorge da Mina foi
erguida pelos portugueses por volta de 1482 na costa da atual Gana, para
proteger o comércio de ouro na região. Embora tomada pelos holandeses em 1632,
ela se tornaria, ainda no século XVII, um importante entreposto do tráfico de
africanos escravizados para o Brasil e outros países.
Os africanos embarcados na Mina (ou
Elmina) e nos outros portos do Golfo da Guiné eram principalmente dos grupos
axanti, fanti, iorubá, hauçá, ibô, fon, ewe-fon, bariba e adjá. Além de Gana,
eles eram trazidos dos atuais territórios de Burkina Faso, Benim, Togo,
Nigéria, sul do Níger, Chad, norte do Congo e norte do Gabão, para atender à
crescente demanda por mão-de-obra ocasionada pelo desenvolvimento da cultura da
cana-de-açúcar no Brasil e no Caribe. Os portos brasileiros, do Maranhão ao Rio
de Janeiro, com destaque para Salvador, foram abastecidos por essa rota até a
primeira metade do século XIX.
Rota de Angola
Essa rota forneceu cerca de 40% dos 10
milhões de africanos trazidos para as Américas. No caso do Brasil, os navios
que partiam da costa dos atuais territórios do Congo e de Angola se destinavam
principalmente aos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Os povos da
África Central Atlântica, como os ovimbundos, bacongos, ambundos e muxicongos,
pertenciam ao chamado grupo linguístico banto, que reúne cerca de 450 línguas.
O tráfico dessa região para o Brasil
começou ainda no século XVI. Foi inicialmente marcado pela aliança entre os
portugueses e o reino do Congo. Mas, para escapar do monopólio do rei congolês
no fornecimento de africanos escravizados, Portugal passou a concentrar
esforços na região mais ao sul, onde hoje se situa Angola. De lá, veio a maior
parte dos africanos que entraram no Brasil, principalmente pelo Rio de Janeiro,
no período colonial.
Rota de Moçambique
No início do século XIX, a Inglaterra
passou a pressionar Portugal no sentido de acabar com o tráfico negreiro, o que
resultou nos tratados de 1810 entre os dois países. Para escapar ao controle
britânico na maior parte do Atlântico, muitos traficantes se voltaram para uma
rota até então pouco explorada, que partia da África Oriental. Os navios saíam
principalmente dos portos de Lourenço Marques (atual Maputo), Inhambane e
Quelimane, em Moçambique, e se dirigiam ao Rio de Janeiro.
Africanos embarcados nesses portos
pertenciam a uma diversidade de povos, entre os quais os macuas, swazis,
macondes e ngunis, e ganhavam no Brasil a designação geral de moçambiques".
Entre 18% a 27% da população africana no Rio do século XIX era de moçambiques.
No entanto, nem todos vinham da colônia portuguesa e, sim, de regiões vizinhas
– onde hoje estão Quênia, Tanzânia, Malauí, Zâmbia, Zimbábue, África do Sul e
Madagascar. O grupo linguístico majoritário era o banto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.