Os últimos 40 anos da nossa história têm revelado muitas “caras” do Brasil. Se os anos 60 e 70 do século XX foram anos turbulentos, com o auge da Guerra Fria entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado pela então União Soviética. Guerra esta que não foi tão fria assim, onde mundo foi envolvido num jogo de interesses que inúmeras vezes explodiram em conflitos, como na Coréia de 1950 a 1953, no Vietnam de 1965 a 1975, entre outros.
O Brasil sofreu os efeitos deste contexto internacional associado a fatores internos ao longo dos anos de 1960, 1970 e 1980. O golpe militar de 1964, por exemplo, recebeu apoio dos EUA, numa jogada de garantir o controle e a influência americana e capitalista sobre o continente americano, uma vez que em 1959 a pequena ilha de Cuba se tornara socialista afrontando os interesses norte-americanos na região.
O Regime Militar brasileiro demonstrou por meio de suas ações como a perseguição aos comunistas, sua opção dentro do jogo mundial do capitalismo x socialismo. Além disso, as camadas da sociedade brasileira mais ricas e conservadoras, temendo perderem seus privilégios apoiaram o Golpe contra a ameaça de reformas sociais e econômicas pretendidas por Goulart no inicio da década de 1960. Assim, o Regime Militar que foi imposto a população brasileira em 1964, tinha o objetivo de moralizar a política e tirar o Brasil do caos econômico, afastando toda e qualquer ameaça a “ordem”.
No entanto, para assegurar essa “ordem”, os militares fizeram uso da repressão, censura e tortura aos que ousavam se opor. Para conseguir o apoio das camadas mais pobres e médias da sociedade, produziram o “milagre econômico”, isto é, fazer com que a economia se desenvolvesse, juntamente com obras públicas que beneficiassem a população. A construção de hidrelétricas como a de Itaipu, de rodovias e aumento da rede de telecomunicações, dava a sensação que o Brasil esta em pleno progresso apesar da falta de liberdade de expressão e de democracia. Entretanto, o desenvolvimento do Brasil era pago com dinheiro emprestado do exterior, principalmente de bancos e do FMI, fazendo a dívida externa do Brasil saltar de cerca de 3 bilhões de dólares em 1961 para mais de 62 bilhões de dólares em 1981. Portanto, o crescimento da economia brasileira no período do “milagre econômico” feito conseguido graças ao financiamento e endividamento do Brasil no exterior. Em 1972, com a crise internacional do petróleo, o país passa por dificuldades em continuar crescendo, sendo que a inflação e a crise acabam com o “milagre econômico”, despertando as camadas da população que foram iludidas com a propaganda do progresso para a realidade do país.
As resistências ao regime Militar se expressaram de várias formas, por meio de ações clandestinas armadas, da arte de protesto (música, teatro e poesia) e da oposição política autorizada (o MDB).
O período mais difícil da ditadura no Brasil foram os anos de 1968 a 1975, quando apoiados no AI-5 os órgãos de repressão fizeram a maior parte de suas vítimas. A morte de Vladimir Herzog em 1975 pelas mãos da repressão da ditadura, marca o inicio da mobilização pelo fim do Regime Militar. Com apoio da Igreja Católica e outras organizações civis, a população brasileira passa a questionar as ações dos governos militares.
Em 1978, diante da pressão da sociedade brasileira, o governo Geisel acaba com o AI-5 e promete fazer uma lenta, gradual e segura abertura política do Regime. O inicio dos anos de 1980, são marcados pela volta dos que haviam deixado o Brasil durante os “anos de chumbo” e uma reforma na organização política do Brasil, surgindo a partir do MDB, partido de oposição do governo militar, vários partidos como o PMDB, PTB, PTD, PT, PL, e outros e do PDS, antiga ARENA, que fora criada pelo AI-2 juntamente com o MDB.
A oposição cresce e em 1984 o Brasil se agita em torno das “Diretas Já”, movimento para a eleição direta do próximo presidente da República em 1985. No entanto, a proposta não é aceita pelo Congresso Nacional, e em janeiro de 1985 o presidente é escolhido pelo Colégio Eleitoral de foram indireta. Tancredo Neves vence, mas não assume a Presidência por problemas de saúde. Seu vice, José Sarney assume prometendo conduzir o Brasil a democracia.
O governo Sarney foi marcado por tentativas para solucionar problemas sociais e econômicos decorrentes de uma volumosa dívida externa e uma inflação em crescimento acelerado, herdados do período da ditadura. Entre as várias tentativas, esteve o Plano Cruzado, que reformulou a economia, reduzindo a inflação e aumentando o poder de compra das classes trabalhadoras. Contudo fracassou, pois o governo gastava mais do que arrecadava e não possuía mecanismos para acabar com os abusos e controlar o consumo.
Em 1988 o Brasil recebeu das mãos da Assembléia Constituinte uma nova Constituição, que assegurava os direitos e deveres dos cidadãos, consolidando a volta da democracia ao país.
O ano de 1989 foi especial, pela primeira vez em 30 anos os brasileiros puderam novamente escolher seu presidente. A campanha eleitoral se bipolarizou entre Lula, candidato da esquerda e Collor, candidato da direita. Num país agitado e à beira do caos, os candidatos debatem os problemas econômicos, a corrupção na política e apresentaram programas de governo capazes de solucionar os problemas sociais.
Fernando Collor de Melo, o “caçador de marajás” venceu, e no dia seguinte a sua posse confiscou a poupança pública, contrariando suas promessas de campanha. Este plano conhecido com Plano Collor fracassou sem ter combatido a inflação.
Escândalos de corrupção na administração do governo, a inflação, o desemprego, desgastaram a imagem de Collor. Acusado de envolvimento no esquema PC Farias, Collor sofreu impeachment que o afastou definitivamente do poder em 1992. Sendo a presidência assumida pelo vice Itamar Franco, que se comprometeu em moralizar a administração do governo, combater a fome, a miséria, o desemprego e a inflação. No entanto em 1994 o desemprego continuava batendo recorde. Foi neste ano que se criou um novo plano de estabilização e de combate à inflação, após várias tentativas fracassadas, Fernando Henrique Cardoso, quarto ministro da Fazendo do governo Itamar, lançou a URV (Unidade Real de Valor) buscando o equilíbrio entre salários e preços. O plano substituiu o Cruzeiro Real pelo Real, que acompanharia o valor do dólar.
O Plano Real, num primeiro momento conseguiu atingir seus objetivos de combater a inflação, no entanto, o grande volume de importações frente a um número reduzido de exportações fez com que o Brasil gastasse mais com compras do que vendia ao exterior, levando a uma crise interna que associada a turbulências externas (crises em outros paises como Rússia, Japão, em 1997/1998), obrigaram o governo a rever seus planos.
Em 1994, graças ao sucesso do Plano Real Fernando Henrique Cardoso consegue se eleger presidente de República. O governo FHC foi marcado por tentativas de reformas políticas importantes para o Brasil, mas que por morosidade dos políticos não foram concluídas. Em 1998, numa manobra política FHC consegue emendar a Constituição alterando-a para que o presidente da República pudesse disputar uma reeleição. Mais uma vez apoiando-se no sucesso do Plano Real FHC reelege-se presidente por mais um mandato. Este último mandato caracterizou-se por dificuldades em continuar a política econômica diante das turbulências externas e internas na economia. Os problemas sociais que haviam se amenizado no inicio do Plano Real, voltam com mais força, acrescidos pela violência, marginalização social e conflitos sociais no campo e nas cidades.
Se a sociedade brasileira nos anos de 1960 e 1970 fora influenciada pelo contexto internacional e pela cultura de protesto, os anos 90 do final do século XX foram marcados pela mundialização, sendo nossa cultura invadida cada vez mais por outras cultura estrangeiras. Os meios de comunicação chegam agora em todos os lugares levando consigo informações na velocidade da luz. É em meio às dificuldades que brasileiros ainda criam e recriam sua própria cultura, ou adaptam outras. O fim do socialismo e da Guerra Fria no inicio da década de 1990, trouxe uma nova ordem mundial: a hegemonia do capitalismo, tendo os EUA como seu representante principal, onde o Brasil é parte do jogo de interesses.
Nos últimos 40 anos o Brasil mostrou muitas de suas “caras”, das mais variadas formas: protesto, autoritarismo, repressão, mobilização social, miséria, fome, inflação, desemprego, campeão, crescimento econômico, endividamento, sede de democracia, censura, trabalho, arte, força de vontade, “um gigante por sua própria natureza”. Provavelmente há ainda muitas “caras” que não conhecemos e outra que não vamos conhecer. Como nós brasileiros podemos contribuir para mudar a “cara” do Brasil?
Texto produzido por Vitor Hugo Garaeis
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