domingo, 18 de maio de 2014

REVOLUÇÃO INGLESA DO SÉC. XVII

A REVOLUÇÃO INGLESA DO SÉC. XVII *

Entre os séculos XVI e XVII acelera-se o processo de transição do feudalismo para o capitalismo, cujo processo teve início ainda no séc. XI, quando o sistema feudal apresenta os primeiros sintomas de crise. Este período é marcado pela presença de elementos capitalistas e feudo-medievais que irão integrar o conjunto das atividades econômicas.

            No setor agrário, apesar de encontrarmos ainda relações de produção do tipo feudal, há presença uma ruptura nas relações servis.

            A economia mercantil se desenvolve dentro dessa sociedade feudal, mas é limitada pela estrutura desta. De qualquer forma acelera-se o processo de capitalização da agricultura, transformando a terra num bem comerciável no mercado e eliminando as formas de posses feudais.

            Os capitais obtidos no desenvolvimento da economia urbana passam a serem investidos no campo e na agricultura.

            O processo de transformação da estrutura agrária inglesa teve na distribuição e venda de bens confiscados da Igreja católica por parte do Estado, seu principal fator de motivação, beneficiando a pequena nobreza (gentry) especialmente da região sul e leste da Inglaterra. Outro fator decisivo foi os cercamentos, por meio destes, tais proprietários aumentaram consideravelmente as áreas necessárias à agricultura comercial, bem como, os campos destinados à criação de ovelhas, expulsando os servos camponeses das terras. Enquanto a nobreza proprietária que havia arrendado suas terras a capitalistas a longo prazo, perdia suas rendas devido à inflação e as crises durante o séc. XVII, os produtores que integraram sua produção ao mercado passaram a acumular capitais e reinvestir tanto na agricultura quanto nas atividades manufatureiras.

            A crise dos centros urbanos estimulou a expansão das indústrias rurais. A indústria inglesa passou a ter seu segmento principal na produção de tecidos de lã.

            O desenvolvimento industrial inglês foi financiado de diversas formas, entre elas a riqueza obtida de forma ilícita por traficantes e piratas, dinheiro que a pequena nobreza investiu a partir da pilhagem de mosteiros e reinvestimentos obtidos a partir da nova agricultura. No entanto, vários obstáculos se colocaram ao desenvolvimento industrial, um destes foi à regulamentação imposta pelas corporações, o que resultou no abandono dos centros tradicionais de produção industrial, por parte dos capitalistas que passaram a instalar-se em subúrbios ou novas cidades longe do controle das corporações, ou ainda migraram para as zonas rurais, onde a mão-de-obra era farta e barata decorrente das mudanças causadas pelos cercamentos nos campos. Outro obstáculo foi à própria monarquia inglesa, que tentava preservar a estrutura produtiva em vigor o que impediu o avanço da produção industrial e conseqüentemente do capitalismo na Inglaterra.

            O desenvolvimento do comércio trouxe a expansão das atividades industriais. A partir da segunda metade do séc. XVI, os tecidos tornaram-se o principal produto de exportação da Inglaterra, devido ao caráter protecionista adotado, os impostos cobrados do comércio inglês eram menores e por isso dava capacidade de concorrência aos produtos ingleses. Mas foi com a concessão de privilégios a companhia de comércio que transformou esta atividade numa verdadeira fonte de lucros para o Estado. Estes monopólios comerciais bem como as indústrias traziam benefícios a um número reduzido grupo da sociedade inglesa gerava recursos para o Estado, mas trazia prejuízos para grande parcela da população que marginalizada destas atividades pagavam preços elevados no mercado interno em razão da exclusividade comercial e industrial.

             A sociedade inglesa era de caráter agrário, com uma estrema segmentação social, o que ocasionava conflitos de classes e dificulta estabelecer um perfil da estrutura social. Em linhas gerais, podemos analisa-la a partir de três categorias sociais: a aristocracia, forma da pela nobreza tradicional, que teve um papel de extrema importância na Revolução Inglesa, pois sua condição de classe decadente fazia com que dependesse de favores do Estado, supunha-se que esta se posicionasse ao lado da realeza, mas alguns nobres tomaram partido do parlamento.

            Os nobres latifundiários se dividiam em proprietários feudais tradicionais (norte-oeste) e os do sul que se tinham beneficiado pelos cercamentos e expulsão dos camponeses, forneciam lã para os donos das manufaturas, esses nobres formavam parte da chamada gentry, que com o passar do tempo tornou-se uma nobreza aburguesada, verdadeiros capitalistas agrários. A gentry não era apenas uma classe de proprietários capitalistas em formação, era uma ideologia que se formava e difundia-se. Classe com inigualável visão empreendedora tinha seu próprio estilo de vida definido pela moral puritana, que se adaptou de forma extraordinária a conjuntura econômica da época, ao contrário da alta nobreza. A gentry seria a grande força da revolução posicionando-se pelo parlamento e contra a monarquia, apesar de estar à frente diretamente do poder, manipulava os bastidores.

            Existia também um grupo social chamado Yeomen, formado a partir de diversos tipos sociais que tinham em comum o fato de caracterizarem-se como classe media rural, eram geralmente arrendatários e ambicionavam uma nova situação social que lhes garantisse a propriedade da terra, a expansão de seus negócios e interesses.

            Apesar dos resquícios sociais do feudalismo é na crise social e política do séc. XVII, que se esboçou a estrutura da sociedade da época moderna, com sua extrema segmentação que eventualmente determinará o conflito social mais adiante.

            Manufatureiros, comerciantes e industriais, enriqueciam com suas atividades, sendo estes os burgueses mais atuantes.

            A exclusão social se agravava à medida que camponeses que foram obrigados a deixarem as terras onde estavam estabelecidos na constituição dos cercamentos no meio rural migraram para os centros urbanos onde desempregados vagavam pelas ruas, piorando a situação das cidades. Muitos destes desocupados passaram a trabalhar em pequenas manufaturas que surgiam nas periferias das cidades, como não eram mão-de-obra qualificada sujeitava-se a longas jornadas de trabalho em troca de salários baixíssimos.

            A burguesia e os empresários rurais não viam com bons olhos esta situação que se estruturava, principalmente o controle do rei sobre a economia. Assim, grupos capitalistas passaram a reagir contra o absolutismo do rei, pois temendo conflitos entre os camponeses e os grandes proprietários tentaram impedir os cercamentos, o que atraiu ainda mais a oposição da gentry e de setores da burguesia mercantil.

            Os aliados do rei neste momento eram o clero anglicano e a aristocracia do norte e do oeste que tinham seus valores e modo de explorar de suas propriedades baseados no modelo feudal (uso de mão–de-obra servil).

            O contexto religioso inglês fez com que a burguesia e os empresários rurais se unissem, pois o Anglicanismo, religião oficial do Estado inglês servia aos interesses do rei. Assim, a burguesia calvinista (Puritanos) e os capitalistas agrários passaram a lutar contra os desmandos do rei absolutista.

Valorizando o trabalho, o hábito de poupança e a busca do lucro, a ética calvinista atendeu as aspirações da burguesia, que encontrou no Calvinismo uma justificativa religiosa para a acumulação de riquezas do dia-a-dia. As ideias calvinistas adotadas e vividas pelos puritanos ingleses chocavam-se com as ideias do anglicanismo, que tinha posições contrárias às calvinistas. A gota d’água veio quando o rei tentou impor uma legislação para regular a religião, enfatizando a forma católica do anglicanismo em detrimento do conteúdo calvinista, com isso o rei tentava impor seu poder. Os choques religiosos entre anglicanos e puritanos, que passaram a polarizar-se como oposição e apoio à monarquia absoluta, chamou-se de Revolução Puritana.

Após a tomada de poder pelos puritanos, é no governo de Cromwell que se decreta o Ato de Navegação, que determinava que todos as mercadorias comercializadas pela Inglaterra só poderiam ser transportadas por navios ingleses ou do país onde foram produzidas. Isso impulsionou o capitalismo inglês e favoreceu especialmente a burguesia mercantil e a indústria naval. Ao mesmo tempo prejudicando a Holanda, detentora de praticamente todo transporte comercial mundial da época, país com o qual a Inglaterra entra em guerra de 1651 a 1654. Com a vitória inglesa, a Inglaterra assume a posição de liderança no comercio marítimo internacional.

            Com o movimento de 1688, a chamada Revolução Gloriosa, completa-se a Revolução Inglesa que liquidou o absolutismo, estabeleceu um governo parlamentar que permitiu a ascensão da burguesia ao poder.

            Estruturavam-se, assim, as condições para o avanço econômico que resultaria na Revolução Industrial. De um lado, uma revolução da agricultura impulsionada pelos cercamentos que beneficiou a gentry. De outro lado, a expansão comercial e marítima garantida pelo ato de navegação, que atendia aos interesses da burguesia mercantil. O caminho estava aberto para a consolidação do capitalismo na Inglaterra.

Bibliografia:
ARRUDA, José J. A Revolução Inglesa. São Paulo:Brasiliense, 1988.
MARQUES,Adhemar M.,BERUTTI,Flávio C.,FARIA,Ricardo de Moura.História Moderna através de textos. São Paulo: Contexto,1997.          

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