sábado, 25 de maio de 2013

DESCOLONIZAÇÃO AFROASIÁTICA PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Descolonização da África
O processo começa após a Segunda Guerra Mundial com a ação conjugada dos movimentos de libertação nacional surgidos em alguns países e a maior ou menor disposição das potências coloniais de estabelecer novas formas de relação com os países africanos. O processo de independência é desigual e mais demorado do que na Ásia.
Norte da África - A Líbia conquista a independência em 1951 e o Egito, com uma revolução nacionalista, em 1952. A República egípcia nasce em 1953, com a introdução de reformas econômicas e sociais, industrialização e medidas socializantes. Em 1956 o presidente Gamal Abdel Nasser nacionaliza o Canal de Suez, abrindo uma crise com as potências ocidentais e aproximando o país da URSS. Tendo em vista as tensões com Israel, Egito e Síria unem-se em 1953 numa federação, a República Árabe Unida (RAU). O Sudão se separa do Egito como Estado independente em 1956. O Marrocos proclama a independência em 1956, com o consentimento da França. Na Tunísia, a França cede às pressões do partido nacionalista Neo-Destur, fundado em 1954, e permite que a Assembléia Nacional proclame a independência em 1956 e a República em 1957.
Argélia - É obrigada a enfrentar uma guerra prolongada de libertação em virtude da resistência dos colonos franceses (apelidados na metrópole de pieds noirs, ou pés pretos), que dominam as melhores terras. Em 1947, a França estende a cidadania francesa aos argelinos e permite o acesso dos muçulmanos aos postos governamentais, mas os franceses da Argélia resistem a qualquer concessão aos nativos. Nesse mesmo ano é fundada a Frente de Libertação Nacional (FLN), para organizar a luta pela independência. Uma campanha de atentados antiárabes, entre 1950 e 1953, desencadeada por colonos direitistas, tem como reação da FLN uma onda de atentados nas cidades e guerra de guerrilha no campo. Em 1958, rebeldes exilados fundam no Cairo um governo provisório republicano. A intervenção de tropas de elite da metrópole (Legião Estrangeira e pára-quedistas) amplia a guerra. Ações terroristas, tortura e deportações caracterizam a ação militar da França. Os nacionalistas e oficiais ultradireitistas dão um golpe militar na Argélia em 1958.
Proclamação da República - No ano seguinte o presidente francês, Charles de Gaulle, concede autodeterminação aos argelinos. Mas a guerra se intensifica em 1961, pela entrada em ação da organização terrorista de direita OAS (Organização do Exército Secreto), comandada pelo general Salan, um dos protagonistas do golpe de 1958. Ao terrorismo da OAS a FLN responde com mais terrorismo. Nesse mesmo ano fracassam as negociações franco-argelinas, por discordâncias em torno do aproveitamento do petróleo descoberto em 1945. Em 1962 é acertado o Armistício de Evian, com o reconhecimento da independência argelina pela França em troca de garantias aos franceses na Argélia. A República Popular Democrática da Argélia é proclamada após eleições em que a FLN apresenta-se como partido único. Ben Bella torna-se presidente.
África Subsaariana - Em Gana, Kwame Nhkrumah funda o Partido da Convenção Popular em 1949 e o primeiro Estado negro independente em 1957. Declara-se partidário do neutralismo e de uma política panafricanista. Aproxima-se da URSS e da China, sendo derrubado em 1966 por um golpe militar. Na Guiné, Sekou Touré organiza a União Democrática Africana em 1946 e a União Geral dos Trabalhadores em 1956 e funda o novo Estado independente em 1958, com o apoio do bloco socialista. No Congo Belga (atual Zaire), a resistência da Bélgica em conceder a independência explode em distúrbios em 1959. Os belgas abandonam a colônia e a República é proclamada em condições de desagregação que levam à guerra civil. No Mali, Modibo Keita dirige a União Democrática Africana e a luta pela independência entre 1946 e 1960 e funda a República em 1960. Leopold Senghor, conhecido poeta africano, forma o Bloco Democrático do Senegal, em 1946, e conquista a independência em 1960. Em Tanganica, Julius Nyerere funda a União Nacional Africana em 1954, conquista a independência em 1961 e, em 1964, une-se a Zanzibar, formando a Tanzânia.
Independências concedidas - Diante da pressão crescente, as potências européias apressam a concessão da independência. Estabelecem novos laços econômicos e políticos com as antigas colônias, para mantê-las sob sua influência, e estimulam a instauração de ditaduras fiéis. Em 1960 é organizada a União das Repúblicas Centro-Africanas, para a coordenação aduaneira e econômica das novas repúblicas procedentes de antigas colônias francesas. Inclui Camarões, Congo-Brazaville (atual República do Congo), Gabão, Chade e República Centro-Africana. A concessão de independência ao Togo, Costa do Marfim, Daomé (Benin), Alto Volta (Burkina) e Níger, em 1960, resulta na União Shel-Benin. Também em 1960 é concedida a independência à Nigéria, Madagascar, Somália e Mauritânia. No ano seguinte Serra Leoa, em 1962 Uganda, Ruanda e Burundi, em 1965 o Quênia e em 1966 Gâmbia. A independência da Rodésia (atuais Rep. Dem. do Congo e Zimbábue), em 1965, visa impedir o surgimento dos Estados independentes de Malavi e Rep. Dem. do Congo.
Apartheid - A segregação entre a minoria dominante branca e a maioria negra da população da África do Sul já é praticada desde o início da colonização do território. Em 1948, o Partido Nacional de Daniel Malan se elege usando como slogan a palavra "apartheid" (separação, em africâner). O sistema tradicional de segregação racial ganha expressão em todo o corpo de leis do país, com educação segregada, proibição de casamentos interraciais, deportações arbitrárias de negros considerados indesejáveis e, a partir de 1959, os bantustões - dez reservas tribais independentes exclusivas para negros, com governos próprios. Os governantes negros desses territórios só têm a ganhar com a perpetuação do apartheid e passam a apoiá-lo. Sem direito a qualquer expressão sindical ou política, reservada à minoria branca, na década de 60 os negros antiapartheid recorrem cada vez mais a ações violentas.
Descolonização da ÁsiaNo curso da Segunda Guerra Mundial intensificam-se os movimentos pela libertação e autonomia nacional em quase todos os países do continente asiático. Assumem a forma de guerras de libertação, em geral estimuladas ou dirigidas pelos comunistas, de resistência pacífica ao domínio colonial ou de gestões diplomáticas para a conquista da autonomia.
Indochina - No decorrer da guerra antijaponesa, cresce um forte movimento de libertação nacional no Vietnã, Laos e Camboja, com a participação de comunistas e nacionalistas. No Vietnã, a guerra de libertação é dirigida pelo Vietminh, movimento de frente única fundado em 1941 pelo líder comunista Ho Chi Minh. Em 1945, o Vietminh ignora as decisões da Conferência de Potsdam quanto à divisão do Vietnã e proclama a República Democrática, tendo Hanói como capital. Nesse mesmo ano os britânicos ocupam a região sul e Saigon e, em 1946, passam a administração dessa região às autoridades coloniais francesas. O Vietminh aceita o retorno das tropas francesas em troca do reconhecimento da República do norte no âmbito da União Francesa. Os ultranacionalistas franceses decidem, porém, resolver o problema militarmente. Tropas selecionadas ocupam o delta do rio Vermelho em 1946, deflagrando a guerra que se estende até 1954. O Vietminh combina táticas de guerrilha com a guerra de movimentos. A derrota final dos franceses ocorre na batalha de Dien Bien Phu, em maio de 1954. A guerra se desenvolve também no Laos e no Camboja. A Conferência de Paz de Genebra, realizada em 1954, divide a Indochina em três Estados independentes: Laos, Camboja e Vietnã. O Vietnã permanece dividido pelo paralelo 17 em duas zonas até a realização das eleições em 1956.
Índia - É o centro do Império Britânico na Ásia, incluindo também o atual Paquistão e Bengala Oriental (atual Bangladesh ). Durante a Segunda Guerra Mundial crescem os movimentos antibritânicos, que procuram um acordo de independência. O Partido do Congresso (pró-independência) sofre grande influência do movimento pacifista de Mohandas Ghandi. A Liga Muçulmana surge da divisão do Partido do Congresso, em 1940, com o objetivo de conseguir a separação do Paquistão da federação indiana. Em 1947, após a negativa de Ghandi e do Partido do Congresso a aceitar o status de domínio, é proclamada a independência, criada uma Assembléia Constituinte e formado um governo de transição. Em 1950 é proclamada a Constituição da União Indiana.
Mohandas Karamchand Ghandi (1869-1948) - Principal artífice do movimento de independência indiano, é advogado formado em Londres e vive de 1907 a 1914 na África do Sul, onde inicia seu movimento pacifista. Ao retornar à Índia, consegue disseminar seu movimento, cujo método principal de luta é a resistência passiva, que nega qualquer colaboração com o domínio britânico, mas mediada pela não-violência (ahimsa). É preso pelo menos quatro vezes e sensibiliza a opinião pública fazendo greves de fome. Torna-se famoso por sua simplicidade: usa sandálias de camponês e roupas feitas com algodão que ele mesmo tece manualmente. Ganha o apelido de Mahatma (homem santo, patriarca). Tenta manter hindus e muçulmanos unidos, mas os muçulmanos preferem estabelecer um Estado separado, o Paquistão. Em sua homenagem, Indira, filha de Jawaharlal Nehru - o primeiro a ocupar os cargos de primeiro-ministro e chanceler da Índia independente -, adota o sobrenome Ghandi. Ele aceita a divisão do país para evitar um banho de sangue, o que atrai a ira dos radicais nacionalistas hindus. Um deles assassina Gandhi com um tiro em janeiro de 1948.

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