domingo, 4 de setembro de 2011

Resistências ao Regime: a Cultura Brasileira nos anos 1960, 1970 e 1980

O AI-1 fechou e colocou ilegalidade diversas organizações consideradas “subversivas” pelos militares, com a prisão de seus lideres. A CGT (Central Geral dos Trabalhadores), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e as Ligas Camponesas foram os principais alvos, passando algumas delas a atuar na clandestinidade.
Com cassações, censura, repressão aos partidos, imprensa e organismos representativos da sociedade civil, a cultura teria seu papel revalorizado pelos grupos de oposição, servindo como ponto de contato entre aqueles agrupamentos políticos na ilegalidade e a população civil. Buscando comunicar-se com um público que já não podia ser mais alcançado pelas vias políticas tradicionais, artistas independentes, ou ligados a grupos organizados de oposição, procuraram driblar a censura e a repressão promovida pela ditadura militar transmitindo suas mensagens de forma não explicita, através do cinema, da música e do teatro.
Surgia, assim, nos anos 60 o que passaria a ser conhecido com arte de protesto. Nos anos seguintes, seu público viria a aumentar e ganhou espaço cada vez maior na televisão a partir do sucesso dos Festivais da Canção.
Restrita a um pequeno circulo dos que tinham posses no momento da sua instalação no Brasil, a televisão se consagraria, ao longo dos anos, como importante veiculo de comunicação, tendo como principal emissora a TV Tupi (São Paulo). Mas foi em 1964 quando a TV Rio (atual TV Globo) começou a transmitir a novela “O Direito de Nascer”, que se consolidou o sucesso da televisão no Brasil, com as telenovelas que viriam a disputar o público brasileiro com outras manias nacionais. Até meados de 1965, o futebol fez a diversão nas tardes de domingo, mas que ao ser proibida a transmissão por causa da diminuição das torcidas nos estádios, as tardes de domingo por iniciativa da TV Record foram ocupadas com programas de música popular brasileira. Um destes programas apresentado pelo cantor Roberto Carlos atraia o público jovem e adolescente. Ao mesmo tempo em que as declarações, músicas e atitudes de Roberto Carlos e seus amigos (Erasmo Carlos , Vanderleia e outros) vinham demonstrar uma rebeldia com seus cabelos compridos e roupas espalhafatosas, mas que não tinha uma postura de protesto à situação política e social, que com o tempo foi sendo caracterizado como um estilo musical alienado em relação aos problemas que afetavam o país, que recebeu o nome de “Jovem Guarda”.
Contrapondo-se ao universo rural, à seca e à miséria do povo nordestino, presentes nos sambas e modas de viola da arte de protesto, a “Jovem Guarda” estaria mais voltada para temas urbanos, amores perdidos, praias, biquínis, festas e carrões,cantados por rocks marcados pelo som de guitarras, órgãos e outros instrumentos eletrônicos.
O I Festival da Música Popular Brasileira em 1965 lançou a moda dos festivais no Brasil, ampliando as possibilidades de divulgação das músicas de protesto.
O crescimento da repressão às atividades artísticas parecia acompanhar a conscientização da população que passava a organizar a resistência a ditadura. Jornalistas, estudantes, juristas, padres, políticos e operários não perdiam oportunidade de demonstrar sua oposição aos militares em documentos, decisões judiciais, artigos na imprensa, greves, CPI’s e passeatas que mobilizavam um número cada vez maior de pessoas. Em fins de 1968, os militares deram sua respostas aos setores de oposição, o AI-5, dando inicio a uma “operação arrastão”, com a prisão sumária de juristas, operários, políticos, jornalistas e lideres estudantis. A juventude que em 1968 cantava nas passeatas a célebre “Para não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, via alguns dos seus ídolos mais queridos deixaram o Brasil em 1969, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso (que em 1963 haviam com outros artistas lançado um novo estilo musical, o “Tropicalismo”) “foram viver uns tempos longe do Brasil”.
Nos anos 70 e 80 viriam a se juntar aos nomes de Chico Buarque de Holanda, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Milton Nascimento, Nara Leão, Elis Regina, Maria Bethânia ..., outros nomes da música como Ivan Lins, Belchior, Zé Ramalho, Martinho da Vila, e o rock de Rita Lee, Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza. Este período foi rico em criatividade para sobreviver ao controle e censura do regime, mostrando que a dureza de um regime autoritário pode não ser suficiente para acabar com a inteligência de um povo.
* Adaptado pelo professor Vitor Hugo Garaeis, de:
SCHIMIDT, Mario. Nova História Critica. São Paulo: Nova Geração, 2001. p. 283. ALMEIDA. Cláudio A. Cultura e Sociedade no Brasil: 1940-1968. São Paulo: Atual, 1996.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.