sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Portugueses interessam-se pelo Sul do Brasil

Pelo Tratado de Tordesilhas (1494), boa parte da atual região Sul do Brasil pertencia à Espanha. Buscando expandir seu poderio na América do Sul, os portugueses não respeitaram o acordo e decidiram dominar as terras espanholas, habitadas pelos índios. O território acabou tornando-se área de conflitos entre bandeirantes, portugueses, espanhóis, índios, militares e colonos. Além disso, ao mesmo tempo em que a região viu nascer um novo povo, o gaúcho, resultado da miscigenação entre índios guaranis, espanhóis e portugueses, presenciou o desaparecimento dos indígenas, dizimados pelos bandeirantes paulistas e pelas tropas militares.
1.    Domínio espanhol no Sul
O Tratado de Tordesilhas, que separava as terras portuguesas das espanholas, tinha como extremos a Ilha de Marajó, no Pará, ao norte, e Laguna, em Santa Catarina, ao sul. Com essa divisão, boa parte do que hoje é o Paraná e Santa Catarina e todo o território do atual Rio Grande Sul pertenciam à Espanha. Quando Portugal implantou as capitanias hereditárias (1532 a 1536), os espanhóis, como resposta, fundaram Buenos Aires na margem direita do rio da Prata.
1a. As reduções jesuíticas
No início do século XVII, os jesuítas espanhóis já haviam estabelecido reduções na região do Guairá, atual oeste do Paraná, e na região do Tape, na área central do que é hoje o Rio Grande do Sul. Índios guaranis e tapes eram catequizados, cuidavam da lavoura e aprendiam a ler, a fabricar instrumentos musicais, a produzir tecidos e a industrializar o ferro.
Os jesuítas introduziram nas reduções o gado bovino proveniente do Paraguai (1634). As grandes pastagens favoreceram a adaptação dos animais, fazendo a pecuária prosperar. A cavalhada foi trazida pelos espanhóis no começo do século XVI e os índios tornaram-se ágeis cavaleiros.
2. Os bandeirantes escravizam os índios
O desejo dos jesuítas espanhóis de povoar a região em direção ao oceano Atlântico foi interrompido pela ação violenta dos bandeirantes. Eles saíram de São Paulo em direção ao Sul em busca de ouro e de índios para escravizar. Na primeira metade do século XVII, eles invadiram e destruíram cerca de 30 reduções jesuíticas no Brasil, no norte do Paraguai e na Bolívia.
Entre 1618 e 1650, cerca de 300 mil índios foram mortos ou vendidos como escravos para os senhores de engenho do Nordeste. Os que escaparam se refugiaram com os jesuítas no Paraguai e na Argentina.
2a. Ouro no Paraná
Em 1646, Gabriel de Lara descobriu ouro em rios e riachos do Paraná, o chamado "ouro de lavagem". Os bandeirantes dirigiram-se à região e formaram povoados como Paranaguá e Curitiba, elevados a vila, respectivamente, em 1648 e 1693. A extração estagnou-se com a descoberta de jazidas nas Minas Gerais, em 1695.
A exploração do ouro era feita com dificuldade devido à falta de mão-de-obra e à pouca experiência dos trabalhadores. As famílias dos mineradores tinham poucos índios, que eram obrigados a trabalhar na extração do ouro e no plantio de alimentos.
3. Ocupação de Santa Catarina
Em 1658, os portugueses decidiram garantir a posse do território. Fundaram a cidade de Nossa Senhora de Graça do Rio de São Francisco e, em 1676, Santo Antônio dos Anjos da Laguna, ambas em Santa Catarina. Pretendiam, a partir daí, povoar os campos onde o gado, abandonado pelos jesuítas, crescia livremente.
3a. O rio da Prata
A ocupação da região do rio da Prata era de fundamental importância para os portugueses, tanto do ponto de vista expansionista quanto do econômico. Navios espanhóis alcançavam o oceano Atlântico e partiam para a Europa carregados de prata, retornando com contrabando inglês.
3b. Portugueses fundam a Colônia do Sacramento
Associados aos ingleses, os portugueses tentaram quebrar o monopólio colonial da Espanha e fundaram, em 1680, a Colônia do Sacramento. Ela ficava em território espanhol, na margem esquerda do rio da Prata, onde hoje é o Uruguai, em frente a Buenos Aires. Começaram a ocupar ainda o litoral catarinense, abaixo de Laguna, também em terras espanholas. Conflitos entre os dois povos tornaram-se constantes nos cem anos seguintes. Embora expulsos várias vezes da Colônia do Sacramento, os portugueses permaneceram no território graças a acordos diplomáticos.
4. O retorno jesuíta
Em 1687, os jesuítas retornaram ao atual Rio Grande do Sul e recomeçaram o trabalho com os guaranis. Sete reduções surgiram, dando origem aos Sete Povos das Missões, que reuniam cerca de 150 mil índios. Junto com as missões na Argentina, Paraguai e Uruguai, formavam, em uma área de 400 mil quilômetros quadrados, a chamada "República Guarani".
4a. A expulsão dos jesuítas
A República Guarani tinha muitos inimigos entre os proprietários de terra. Na Espanha, acusavam os jesuítas de não permitirem a entrada de colonos nas reduções e de terem eliminado a grande fonte de escravos. Em 1759, o Marquês de Pombal determinou a expulsão dos jesuítas das terras portuguesas. Em 1767, a Espanha adotou a mesma atitude.
Os índios haviam se tornado dependentes dos jesuítas. Sem eles, suas terras foram invadidas, muitos foram escravizados ou integrados às Forças Armadas.
5. O ciclo dos tropeiros
A descoberta de ouro nas Minas Gerais impulsionou a economia sulina. As manadas de bois e tropas de cavalos e mulas, vendidas nas feiras de São Paulo e Minas, passavam pela Estrada do Viamão, aberta em 1727, que estimulou o povoamento do Sul.
5a. Os gaúchos aprendem a fazer o charque
Com o declínio do ciclo do ouro (1750), o gado continuou sendo uma das principais fontes de renda da região, pois os gaúchos aprenderam com os cearenses a produzir o charque. Utilizando-se da mão-de-obra escrava, a carne-seca sulina passou, a partir do final do século XVIII, a abastecer os mercados do Sul, do Norte, do Nordeste e até o das Antilhas.
5b. O abastecimento mineiro
A concentração nas vilas e cidades causou sérios problemas de abastecimento nos primeiros anos da mineração: de 1697 a 1701, os preços dos alimentos dispararam para índices recordes na época. A inflação provocada pela falta de alimentos e pelo dinheiro farto afetava milhares de famílias. Ao longo do século XVIII, foi implantada a produção de subsistência em Minas Gerais e o abastecimento também passou a ser feito a partir de outras capitanias: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul enviavam milho, trigo, frutas e carne, entre outros alimentos. Os escravos trazidos da África desembarcavam nos portos do Rio de Janeiro e de Salvador. Devido à distância, chegavam à zona da mineração com seus preços exorbitantes. Para se ter idéia, uma vaca, que em São Paulo custava 2 mil réis, podia alcançar a cifra de 75 mil réis em Minas Gerais. O transporte de mercadorias era feito por tropas de burros, que seguiam pelos antigos caminhos bandeirantes e pela estrada construída para servir a região. Essa estrada, conhecida como "Caminho Novo", foi aberta sob a supervisão de Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias Paes.

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