sábado, 28 de maio de 2011

A história do Café

Provavelmente o café é originário da Pérsia (hoje Iraque) ou da Etiópia, "seja como for, cafezeiro e café não são referidos na Europa antes de 1470, escreveu o historiador Fernand Braudel. Durante todo o século XVI se espalhou pelo Egito, Arábia, Istambul, Damasco, Índia, etc.
Houve época em que seu consumo foi proibido. Em 1615, um viajante italiano chegando a Constantinopla, escreveu que os turcos tinham uma bebida de cor negra que se bebe quente no inverno e no verão "bebe-se lentamente não durante a refeição, mas depois, como uma espécie de gulodice, em goles, para cavaquear à vontade na companhia dos amigos. Não se vê nenhuma assembléia entre eles onde não se beba... mantém-se um grande fogo, junto ao qual estão prontas pequenas tigelas de porcelana... e quando está suficientemente quente, há homens destinados a esse serviço, os quais não fazem mais nada senão levar estas pequenas tigelas a toda o grupo, o mais quente que possa ser... e com esta bebida, a que chamam kafoé, divertem-se... por vezes durante sete a oito horas".
No século XVII o café chega à Itália, à França, à Inglaterra e à Áustria. Diz-se que um viajante trouxe os primeiros grãos para Paris em 1644, com as xícaras e cafeteiras, tudo novidades.
Em Paris finalmente o café encontrou o acolhimento ideal para seu consumo, quando um embaixador turco começou a servi-lo na sua embaixada.
Quando passou a ser realmente consumido pelos europeus, a nova bebida foi considerada também como um remédio milagroso que "seca todo o humor frio, expulsa os ventos, fortifica o fígado, alivia os hidrópicos pela sua qualidade purificante, igualmente soberana contra a sarna e a corrupção do sangue, refresca o coração e o bater vital dele; alivia aqueles que têm dores de estômago e que têm falta de apetite... bom para as indisposições do cérebro... A fumaça que sai dele vale contra as irritações dos olhos e os barulhos dos ouvidos... para os catarros que atacam o pulmão, as dores de rins, os vermes, alívio extraordinário depois de ter bebido demasiado ou comido".
Com tantas "qualidades" assim, é claro que o café caiu no gosto dos parisienses. Primeiro, vendido nas ruas por turcos vestidos a caráter, com turbantes e tabuleiros pendurados no pescoço, onde estavam a cafeteira no fogareiro e as xicrinhas.
Depois os próprios parisienses começaram a abrir casas ou estabelecimentos onde só se tomava o café, em geral em locais movimentados perto de teatros, de pontes, de lugares muito trafegados. O certo é que já no século XVIII existiam só em Paris entre 600 e 800 cafés. Esses cafés parisienses tornaram-se os lugares onde as pessoas se reuniam para conversar, paquerar, descansar, tomar café e também licores. Alguns desses cafés parisienses do século XVIII ainda existem, no mesmo lugar, até hoje, como o Café Procope e o Café Regência. Fica a sugestão para quem for a Paris curtir as delícias tão antigas desses locais.
Era o tempo da glória e da moda dos cafés, que em Lisboa já vinha importado do Brasil e por isso era barato. A ele juntava-se o açúcar brasileiro "em tão grande quantidade que, dizia um inglês, as colheres ficavam de pé nas xícaras".
Nessa altura, o café passa a ser um bem de consumo, não só dos elegantes, mas começa também a fazer parte do gosto popular, e a ele é acrescentado o leite – o café com leite – consumido em mercados, nas cozinhas, nas esquinas das ruas européias.
Quando o consumo do café aumentou muito, a produção dele que inicialmente vinha toda da Arábia, passou a se organizar melhor e se espalhar pelo mundo no século XVIII. Primeiro foram plantados cafezais em Java, depois em uma ilha do Pacífico, depois na Martinica, na Jamaica, etc.
No final do século XVIII a França já importava 36.000 toneladas de café e já havia entre os europeus, um mercado consumidor de aproximadamente 300 milhões de pessoas. Conseqüentemente, o café tornou-se um setor ativo da economia o que fez aumentar o interesse internacional em produzi-lo e difundi-lo no mundo todo.
Parece ter sido por isso o interesse do Brasil, que já no século. XIX, havia importado grãos e organizado a produção do café, a tal ponto que este produto passa a ser o principal produto de exportação do país, por volta de 1830, em substituição ao açúcar.

Chegada do Café ao Brasil
Em 1727 o oficial português Francisco de Mello Palheta, voltando da Guiana Francesa, trouxe para o Brasil as primeiras sementes de café, plantando-as no Pará.
Este grão, das Arábias, essa bebida excitante, em menos de cem anos, mudou a História do Brasil em todos os aspectos.
A produção cafeeira só se tornou relevante para a economia brasileira a partir da década de 1840. O aumento do consumo do produto em toda Europa desde o século XVIII, bem como nos Estados Unidos, posteriormente nosso maior comprador, foi o fator determinante para a expansão da lavoura.
Num anúncio parisiense do século XVIII, o consumo do café, produto de luxo na Europa, era estimulado e recomendado até pelas suas qualidades medicinais: "Seca todo humor frio, expulsa os ventos, fortifica o fígado, alivia os hidrópicos pela sua qualidade purificante, igualmente soberana contra sarna e corrupção do sangue, refresca o coração e o bater vital dele, alivia aqueles que têm dores de estômago e que têm falta de apetite, é igualmente bom para as indisposições frias, úmidas ou pesadas do cérebro...”.
A alta dos preços do café no mercado mundial - ocasionada em parte pela desorganização da produção do Haiti, em virtude das guerras de independência no final do século XVIII - também incentivou as plantações.
Na fase de sua formação, a economia cafeeira enfrentou diversos obstáculos. Um deles era que não havia experiência no plantio do produto em larga escala. Até o início do século XIX, o café era plantado somente para consumo doméstico. Outro obstáculo era a falta de capitais disponíveis a serem empregados na produção. O período de crise que atravessava a economia não estimulava novos investimentos, nem atraía capitais estrangeiros. Na sua primeira etapa, a lavoura cafeeira contou apenas com recursos dos comerciantes portugueses que chegaram com Dom João, em 1808. Mais tarde, porém, o café receberia o investimento de capitais disponíveis com o fim do tráfico de escravos.

O Café é o Império
Pelos caminhos de ferro que ligavam Vassouras ao Rio de Janeiro corriam vagões carregados. Era o café que se dirigia ao porto para ser vendido à Europa ou aos Estados Unidos.
A rede de ferrovias que compõe a base do sistema ferroviário na América Latina é originária a esse período. Através da exportação de café, a economia brasileira reintegrou-se ao mercado mundial.
Nas fazendas de café, os trabalhos eram árduos para o escravo, principalmente quando se iniciava o período da colheita. E depois de colhido o café havia ainda muitas tarefas a cumprir: secagem, despolpamento, classificação e as várias etapas de beneficiamento requeriam muita mão-de-obra, porque quase tudo era feito manualmente.
O café foi, a partir de 1840, o principal produto de exportação brasileiro e o fator de recuperação da economia do país, que estava em crise desde a independência em virtude da decadência das principais lavouras de exportação.
Em 1861, a balança comercial brasileira já apresentava superávits, apesar do crescimento do volume das importações, agora também mais diversificadas. Importava-se grande quantidade de artigos de consumo, bem como máquinas para a agricultura e para as primeiras indústrias que começavam a surgir. O setor de transportes absorvia também grande parte das importações, especialmente para a construção de ferrovias, que facilitavam o escoamento da produção cafeeira até os portos. As exportações, porém, estavam mais concentradas.
Apesar do crescimento econômico registrado após 1860, o montante de empréstimos contraídos no exterior não diminuiu. Até 1861, os empréstimos destinavam-se a cobrir o déficit da balança comercial, a efetuar o pagamento de dívidas contraídas no período anterior de crise econômica e de instalação e consolidação do Estado nacional. A partir de 1861, o saldo da balança comercial passou a cobrir quase exclusivamente o pagamento dos antigos empréstimos. Os recursos para investimentos internos, necessários ao maior desenvolvimento da economia, tiveram então de ser buscados no exterior. Os empréstimos constantes dificultavam a acumulação de capital no país, além de contribuir para a elevação cambial e, portanto, desvalorização progressiva, embora lenta, da moeda nacional.
A economia brasileira do século XIX esteve, assim, marcada pela expansão da lavoura cafeeira, que transformou o Sudeste na região mais importante do país.  
O plantio do café encontrou no vale do Rio Paraíba, em áreas situadas entre os Estados de São Paulo, Rio de janeiro e Minas Gerais, o local ideal para uma formidável expansão, que subiu as serras e acabou as matas existentes.
No início da produção o transporte do café para o porto era precário. Feito por mulas. Depois chegaram as ferrovias e os trens e tudo ficou facilitado. Na volta dessas viagens os transportes traziam ferramentas, escravos e mantimentos como bacalhau, charque e toucinho. Pouco a pouco com a riqueza da região começaram a chegar também para as fazendas dos Barões do Café, móveis, peças e utensílios de luxo, porcelanas, cristais, etc.
Quando o produto chegava ao porto havia um intermediário, chamado Comissário, que articulava a venda da produção. Toda a exportação era feita por empresários ingleses e americanos.
Os Estados Unidos tornaram-se os maiores consumidores do café brasileiro.
O café dependia e ainda depende e é regulado pelos preços do mercado externo, do mercado internacional.
Embora a Inglaterra fosse o país do qual o Brasil dependia ou melhor, era economicamente dominado por ela, não havia muito consumo do café entre os ingleses, que estavam acostumados a tomar só o chá. Por isso, o café não era muito exportado para a Grã-Bretanha.
Assim o café, um artigo de sobremesa, tornou-se o principal produto de exportação do Brasil.
O café mudou o perfil sócio-econômico do Brasil, pois transferiu para o eixo centro-sul, o centro irradiador da economia do país e com isso, provocou definitivamente a decadência irremediável da região Nordeste, cuja economia baseava-se na cultura do açúcar.
Durante o século XIX foram levados para a região produtora de café, mais de um milhão de escravos, procedentes da África e depois das sucessivas proibições do tráfico, transferidos do Nordeste.
O café deu origem a uma nova classe social que apoiava o governo imperial e dominava a política, juntamente com os comerciantes.
No rastro do café nasceram muitas cidades, muitos latifúndios, novas fortunas e muitos Barões do Café, com os títulos de nobreza concedidos pelo Imperador. Construíram-se ferrovias e desenvolveram-se os portos de Santos e do Rio de Janeiro, os principais do Brasil até hoje.
Entre 1821 e 1830 o café correspondia a 18,4% das exportações totais do Brasil, enquanto o açúcar equivalia a 30,1%. Já na década seguinte 1831/1841 o açúcar passou a corresponder a 24% enquanto o café passou a 43,3%, e assim o produto foi num crescimento exortatório ascendente até o final do século quando chegou a corresponder a 64,5% das exportações, enquanto o açúcar baixou até 6,6%. Depois de 1871 o Brasil chegou a ser responsável pela metade da produção mundial do café.
Com a pressão para extinguir-se o trabalho escravo, os Barões do Café são forçados a introduzir o trabalho assalariado em suas fazendas, com o regime de colonato e a imigração de trabalhadores estrangeiros livres - espanhóis, italianos, japoneses - que passam a chegar ao Brasil em grandes quantidades, e contribuir para mudar o país do ponto de vista social e étnico.