A REPÚBLICA POPULISTA (1946 a 1964)
I.
Governo Dutra (1946/51).
O general Eurico Gaspar Dutra(PSD/PTB), venceu as eleições,
derrotando o candidato da UDN, brigadeiro Eduardo Gomes e o candidato de PCB,
Ieddo Fiuza. O novo governo propunha-se a restaurar a democracia e a
conciliação nacional, que seria delineada pela Constituição de 1946. Apesar da
nova constituição trazer o caráter autoritário do Estado Novo, no que tange a permanência do atrelamento dos
sindicatos ao Estado. O exemplo foi a intervenção que o novo governo realiza em
143 sindicatos.
Quanto a política econômica de Dutra, esta regulou-se pela
redução da intervenção do Estado na
economia, adotando uma política liberal, favorecendo a acumulação de capital,
através de uma política operária autoritária e de contenção salarial. Com relação as importações, o governo esgotou
as divisas acumuladas durante o período da Guerra, importando equipamento
ferroviário obsoleto e bens de consumo, em parte supérfluos- meias de náilon,
ioiôs, artigos de plástico, aparelhos de
TV ( sem que houvesse emissoras no Brasil). Desequilibrando a balança de pagamentos, sem que o país se beneficiasse com a importação
de máquinas e equipamentos, necessários
a nossa indústria. Somente a partir de 1947 é que foi iniciado o controle das
importações.
A intervenção do Estado, só estava prevista para a
implantação do Plano SALTE ( Saúde,
Alimentação, Transporte e Energia), que
não saiu do papel. Em 1949, foi criada a Missão Abbink), composta por
economistas, técnicos, empresários e membros dos dois governos, chefiada por John Abbink e Otávio Gouveia de Bulhões.
A Comissão sugeriu o controle da especulação financeira e imobiliária, e ainda
o recurso ao capital estrangeiro para a criação de infra-estrutura industrial,
inclusive no setor da exploração do petróleo.
No plano político, o governo Dutra expressou os reflexos da
Guerra Fria, buscando um alinhamento junto aos Estados Unidos que, no plano
interno, teve como conseqüência a cassação
do Partido Comunista Brasileiro. No plano externo verificou-se o rompimento das relações diplomáticas com a
URSS.
Em 1950, ocorre a sucessão presidencial, em que a vitória do candidato Getúlio Vargas (
PTB/PSP/dissidentes do PSD ) se faz de
maneira contundente, com aproximadamente
50% dos votos em relação aos candidatos,
Eduardo Gomes ( UDN) e Cristiano
Machado ( candidato oficial do PSD ).
II. Getúlio Vargas
(1951-1954).
As eleições de 1950 trouxeram de
volta ao governo, Getúlio Vargas, que tinha o apoio de setores da burguesia
nacional, parte da classe média, e das massas operárias, através dos
sindicatos, manipulados pelo peleguismo do PTB. Getúlio buscava estabelecer,
com uma reaproximação das massas, a base do seu governo.
O retorno de Vargas significou a
volta da política nacionalista e intervencionista, voltada para a indústria de
base, siderúrgica e petroquímica, energia, transportes, frigoríficos e
implementos agrícolas. Essa política expressava o Plano Lafer ( Plano
Nacional de Reaparelhamento Econômico), que seria fiscalizado pelo BNDE ( Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico), fundado em 1951.
O ponto mais polêmico da política
nacionalista de Vargas, sem dúvida, foi a lei que estabelecia o monopólio
estatal da exploração e refino do
petróleo no país, a cargo da PETROBRÁS
S.A. Esta medida acabou por desagradar o EUA, do presidente Eisenhower, que representava os interesses das
empresas petrolíferas norte-americanas,
e também os segmentos da UDN favoráveis
ao capital estrangeiro.
As tensões sociais aumentaram,
principalmente devido aos baixos salários, enquanto no plano político a UDN era
incansável na sua oposição ao governo,
criticava a política de intervenção do Estado na economia. A crise aumenta
ainda mais a partir de 1954, expressando as contradições da “aliança populista”, enfraquecida pelas hesitações da
burguesia e da incapacidade das massas, cujo nível de luta era fraco e em razão
das limitações a sua organização e conscientização criadas pelo próprio
getulismo.
No dia 5 de agosto de 1954, ocorre uma tentativa de
assassinato do jornalista Carlos Lacerda, da UDN. Nesse ocorrido, acaba
morrendo o Major da Aeronáutica Rubens Vaz, as investigações acabam identificando o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda de
Getúlio. A oposição e setores militares
exigem a renúncia de Vargas, as pressões acabam levando o presidente ao
suicídio, em 24 de agosto de 2001.
Com a morte de Getúlio Vargas, assume o vice-presidente Café
Filho, que logo se afasta, por motivos de saúde. Carlos Luz, presidente da
Câmara de Deputados, é impedido de governar pelo congresso, devido a sua
participação numa tentativa de golpe comandada por Carlos Lacerda, que não
queria aceitar a eleição do candidato da aliança PSD/PTB, Juscelino Kubitschek.
Quem terminou o mandato foi o presidente do Senado Nereu Ramos, que transmitiu
o poder ao J. Kubitschek, a posse foi garantida pelo Ministro da Guerra, Gal.
Henrique Teixeira Lott.
III. Juscelino
Kubitscheck (1956/1961).
O governo de J. K. marcou uma etapa
nova na vida política e econômica brasileira, conseguindo uma façanha de conciliar estabilidade política e
desenvolvimento econômico. Isto se deve, a três fatores importantes: a aliança
PSD/PTB, que lhe garantia a maioria absoluta no Congresso, e a aprovação na
quase totalidade de suas propostas; o Plano de Metas, expressão de uma política
econômica desenvolvimentista; apoio militar, na incorporação de um grande
número de oficiais de alta patente em postos governamentais.
O Plano de Metas é sem dúvida, o
grande destaque do governo Juscelino, visando estimular o desenvolvimento de
seis setores fundamentais: energia, transporte, alimentação, indústria de base,
educação e a construção da nova capital,
Brasília, síntese de todas as metas.
Para conseguir seus objetivos,
Kubitschek, rompe com o FMI, que não queria financiar a sua política econômica, e utiliza-se da via
associativa, associação do capital nacional ao estrangeiro, facilitado pela
instrução 113 da SUMOC ( Superintendência de Moeda e Crédito, do Ministério da Fazenda).
Juscelino Kubitschek inova em termos de planejamento, criando órgãos
federais como a SUDENE ( Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste ), o
GEICON ( Grupo de Estudos da Indústria da Construção Naval)_e o GEIA (
Grupos de Estudos da Indústria da
Automobilística ).
A sua estratégia de desenvolver o
país “50 anos em 5”, foi de uma maneira geral atingida, mudando radicalmente a
fisionomia do país, acelerando o desenvolvimento econômico, em particular das indústrias de bens de capital
e de bens de consumo duráveis ainda que
através de uma política inflacionária e
de abertura para o capital estrangeiro, enquadrando o Brasil nas exigências do
capitalismo industrial.
As eleições de 1960, apresenta uma
surpresa que é a derrota da, até então embatível aliança PSD/PTB, para o
candidato da oposição ( UDN), Jânio Quadros, que baseou a sua campanha no combate a inflação e a corrupção administrativa, usando como símbolo a vassoura. A vitória de Jânio foi pela esmagadora
diferença de aproximadamente um milhão
de votos a mais que o seu opositor, Henrique Teixeira Lott, candidato da
aliança PSD/PTB/PSB.
IV. Jânio Quadros
(1961).
Ao final do governo J.K. , o Brasil
já apresentava uma fisionomia muito modificada, com a cidade superando ao
campo, a região sudeste apresentava uma supremacia acentuada, com um quadro de
inflação alta e o acirramento do confronto das forças políticas ( PTB, PSD, UDN e PCB).
O novo governo tomou medidas de
impacto, estabelecendo a restrição ao crédito e congelou os salários e os subsídios, gerando uma forte apreensão
de operários e empresários.
Jânio governou acima das classes,
partidos e do congresso, privilegiando as forças armadas, era a marca do seu
moralismo autoritário, como observamos a seguir:
. proibição do funcionamento do Jóqueis Clubes nos dias
úteis;
. proíbe as brigas de galo em todo o país;
. proibição dos desfiles de misses com maiôs cavados;
. proíbe o uso da lança-perfume nos bailes carnavalescos;
. Puni o atleta Ademar Ferreira da Silva , campeão do salto
triplo, por abandono do trabalho, enquanto este disputava as
olimpíadas.
Enquanto Jânio Quadros adotava
internamente uma política conservadora, a sua política externa foi marcada pela
independência, num momento de acirramento da Guerra Fria com a Revolução Cubana. Jânio reata as
relações diplomáticas com a URSS, coloca-se solidário aos movimentos de
emancipação do Terceiro Mundo, incluindo a soberania da Argélia e o Movimento
de Libertação de Patrice Lumumba. E deixando pasme os setores conservadores,
condecora com a ordem do cruzeiro do sul,
Ernesto Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana. Essa atitude,
leva o seu antigo aliado e líder da UDN, Carlos Lacerda, a acirrar o
anticomunismo nos meios militares e na
classe média.
A renúncia não foi um ato de
loucura, como muita gente pensa, mais sim, parte de um plano, que consistia em
renunciar ao governo, comovendo as massas, e ganhar o apoio das forças armadas
para a sua volta com mais poderes, para
não entregar o governo a João Goulart, visto com reservas pelos setores
conservadores, devido a sua ligação com o setor sindical, e que estava em
viagem diplomática a China comunista.
O
plano esbarra na denúncia de Carlos
Lacerda, levando Jânio a precipitar a sua aventura. Renuncia, e a reação que
esperava não acontece. O Congresso aceita o seu pedido em 25 de agosto de 1961.
Assume a presidência o presidente da câmara Ranieri Mazzili, devido a ausência
do presidente.
V. João Goulart
(1961-1964).
A renuncia
de Jânio Quadros, mergulhou o país numa das maiores crises, porque os segmentos
conservadores, como a UDN ( Carlos Lacerda ) e alguns setores militares,
temerosos de uma guinada “esquerdista”, não queriam a posse de João Goulart.
Com o intuito de impedir o movimento
golpista, garantir o respeito a constituição, que seria a posse do
vice-presidente João Goulart, se organiza a Frente pela Legalidade, liderada
pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, junto ao chefe do
Terceiro Exército, sediado no Rio Grande do Sul, o General Machado Lopes.
A gravidade
da situação, poderia levar a uma guerra
civil. A solução para o impasse foi encontrada, através de uma Emenda
Parlamentarista à Constituição de 1946, que limitava os poderes do poderes do
presidente e aumenta os do congresso. A posse de João Goulart, ocorre em 07 de
setembro de 1961.
O país que
Jango herdou, passava por uma séria crise econômica, em virtude do aumento da
inflação e do custo de vida. No plano político, os setores conservadores viam
no novo governo, uma tendência esquerdista. Com isso, criam a Ação Democrática Nacional,
comprometida com a corrupção eleitoral, fomentada pelo IBAD ( Instituto Brasileiro de Ação Democrática). Em
contrapartida surge a Frente Parlamentar Nacionalista, de tendência
esquerdizante. A crise social, se aprofunda devido a politização das populações urbanas e rurais,
acentuando-se as contradições entre as classes sociais. Com relação a crise
externa, ocorre o aprofundamento da Guerra Fria
na América Latina, devido a Revolução Cubana.
Entre os
anos de 1961 e 1963, Jango procurou ganhar apoio de outros setores , como PSD,
e até mesmo a UDN, a fim de ganhar a
confiança dos setores mais conservadores, realiza em 1962, uma visita diplomática aos EUA de John Kennedy. Com o apoio
maior do congresso e dos operários ( CNTI – Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Indústria) consegue a aprovação do plebiscito de 06/01/1963,
que estabelece o retorno ao presidencialismo.
Em março de
1962, aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, levaria muitas ligas a se transformarem em
ativos sindicatos rurais. Nesse mesmo ano, é criada a CGT ( Confederação Geral
dos Trabalhadores ).
A partir de
janeiro de 1963, o governo tenta implantar o Plano Trienal, do
Ministério do Planejamento e Coordenação Econômica, dirigido por Celso Furtado,
tinha como objetivos o combate a inflação, assegurar a continuação
do desenvolvimento econômico, principalmente industrial, recebendo bom crédito
e confiança devido ao clima de euforia dos países latino-americanos, no início da década de
1960. A política anti-inflacionária,
executada pelos Ministros San-Thiago Dantas e Carvalho Pinto, fracassa. Foi
combatida pelos empresários devido a restrição ao crédito, pelos operários por
causa do congelamento dos salários. Era extremamente difícil manter a política de mobilização de massas e
estabilização econômica. Os setores de esquerda intensifica a campanha contra o
capital estrangeiro, imperialismo, latifúndio e entreguismo. Esse quadro leva
João Goulart a enveredar pelo caminho das “reformas de Base” e da “política
externa independente”.
Diante
desse quadro, Jango passou a buscar a união das forças populistas,
mobilizando-as e tentando mostrar a opinião pública, a necessidade de mudanças
institucionais, na ordem econômica,
social e política como condição essencial ao desenvolvimento nacional.
Essas mudanças, denominadas de “reformas de base”( agrária, administrativa, bancária e fiscal), acabam
gerando reações da Frente Patriótica Civil Militar e dos EUA, que se recusa
a renegociar a dívida brasileira, agravando a situação. Fornecendo ajuda aos governadores
que se opunham a Goulart.
Em 13 de
março de 1964, ocorre o Comício na Central do Brasil no Rio de Janeiro, onde
Jango anuncia a revisão da constituição (visando dar mais poderes ao
presidente), nacionalização das refinarias ,
desapropriação das propriedades a margem de ferrovias, rodovias e em
áreas de irrigação dos açudes públicos e
a reforma agrária. A reação veio de imediato, com a “marcha da família com Deus
pela liberdade”(19/03/64).
A
sublevação dos marinheiros, entre os dias 25 e 27 de março, resultou na
quebra da hierarquia militar, devido a
substituição do Ministro da Marinha Almirante Mota, pelo Almirante Paulo
Rodrigues e da a anistia aos marinheiros. Para piorar a situação, discursa para os sargentos (30/03/1964), respondendo a
crítica das forças armadas.
Em 31 de
março de 1964, um movimento militar, anti-esquerdista e anti-janguista, em
Minas Gerais, sob o comando dos Generais Luis Carlos Guedes e Mourão Filho, com
o apoio do Governador de Minas Magalhães Pinto, ganham a adesão das forças
armadas do Rio Grande do Sul, São Paulo e Guanabara com o objetivo de
“assegurar a legalidade” e eliminar as ameaças do “esquerdismo comunista”. A
participação dos EUA se deu através do embaixador Lincon Gordon e da Agência
Central de Informações ( CIA), foi o primeiro país a reconhecer a nova
situação. O presidente João Golulart , foi para o exílio no Uruguai, e assume o
cargo o presidente da câmara Ranieri Mazzili.
EXERCÍCIOS:
1. Na época da eleição de Vargas, uma canção popular
afirmava: “Bota o retrato do velho / bota no mesmo lugar / o sorriso do
velhinho / faz a gente trabalhar...” Examinando estes versos, explique o que
possibilitou o retorno de Vargas, ao poder por meios democráticos nos anos de 1950.
2. Aponte
os fatores que levaram ao suicídio de Vargas em agosto de 1954.
3. O populismo que dominou os
governos brasileiros a partir de 1945, estendendo-se até 1964, foi um fenômeno
latino-americano do pós-guerra. Cite, ao menos, três (03) características deste
fenômeno que teve em Getúlio Vargas seu grande precursor em nosso país.
4. Que relação pode-se estabelecer
entre o papel do presidente Truman (EUA) no cenário político internacional no
período logo após a Segunda Guerra Mundial e o alinhamento assumido pelo Brasil
durante o governo Dutra (1946-50)?
5. Por que o breve governo de Jânio
Quadros pode ser caracterizado como ambíguo, reflexo do contexto mundial da
Guerra Fria?
6. Explique os principais fatores
que contribuíram para o Golpe de 1964 que derrubou o governo de João Goulart
(Jango).
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