Costuma-se definir Belle Époque como um período de pouco mais de trinta anos que, iniciou-se na França, por volta de 1880 e foi até 1914, quando começou a I Guerra Mundial. É a pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do realismo-naturalismo. É a época das boemias literárias, como as de Montmartre e Munique. Dessa literatura de cafés e boulevards, de transição pré-vanguardista, é que vão se originar os inúmeros –ismos que dela advieram.
O Café de la Paix em 1900. Este café existe até hoje de frente para a Ópera Garnier.
No Brasil, a Belle Époque costuma ser situada por vários autores entre 1889, com a proclamação da República, e 1922, ano da realização da Semana da Arte Moderna em São Paulo. O que poucos sabem é que a expressão Belle Époque só surgiu depois da I Guerra Mundial para designar um período considerado de expansão e progresso, principalmente em nível intelectual e artístico. Nesta época, surgiram inovações tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema, o automóvel e o avião, que originaram novos modos de vida e de pensamento, com repercussões práticas no quotidiano.
Cartaz publicitário da Coca-cola ainda no século XIX
A Arquitetura e o Estilo Art-Nouveau
Na arquitetura surgiu o estilo Art-Nouveau, com suas formas curvelíneas, contornos sinuosos, assimetria, ritmo elegante, feito de linhas entrelaçadas e sempre dando a idéia de movimento e seus adornos exuberantes. O excêntrico arquiteto italiano, Virgilio Virzi, que em 1910 veio para o Brasil, foi o autor de vários prédios diferentes no Rio de Janeiro. Dentre eles, o prédio do Elixir de Nogueira, que ficava na Praia do Flamengo. O espanhol Antonio Gaudí y Cornet, com seu trabalho revolucionário em Barcelona. Não se pode falar na Art-Nouveau sem mencionar arquiteto francês, Hector Guimard, projetista das entradas do metrô de Paris no período de 1889 a 1904. O estilo Art-Nouveau obteve a consagração internacional durante a Exposição Universal de 1900, realizada em Paris, em comemoração à passagem do século.
As entradas do Metrô de Paris de 1900.
Théâtre L'Athénée Louis-Jouvet na Rue Bordeau, 9ème arrondissement, belíssimo exemplar do estilo Art-Nouveau na arquitetura.
Detalhe da fachada do teatro L'Athénée
O Castel Béranger, o mais famoso prédio de Paris em estilo Art-Nouveau, fica na Rue des Fontaines, 14 no 3ème arrondissement. O Castel Béranger foi inaugurado em 1890.
No Rio de Janeiro, Antonio Virzi deixou a mais conhecida marca do Art-Nouveau na cidade, o prédio do Elixir de Nogueira, que ficava na Rua da Glória 214 e que foi demolido no início dos anos 70.
A Vila Penteado, um dos últimos edifícios remanescentes do estilo art nouveau na cidade de São Paulo, foi projetada pelo arquiteto sueco Carlos Ekman e construída em 1902 para abrigar duas importantes famílias paulistas, a do Conde Antonio Álvares Penteado e a de seu genro, Antônio Prado Junior.
Doada à USP em 1949, a luxuosa construção de dois pavimentos, com mais de 60 cômodos, é hoje a sede da Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP.
Doada à USP em 1949, a luxuosa construção de dois pavimentos, com mais de 60 cômodos, é hoje a sede da Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU-USP.
Jóias e Objetos de Decoração
Em Nancy, Émile Gallé criou uma escola artesanal que produziu vasos e móveis para todo o mundo ocidental. Em Paris, destacou-se René Lalique, que criou jóias no estilo de Gallé. Todos abordoando motivos florais em riscos de rara finura.
Em Nancy, Émile Gallé criou uma escola artesanal que produziu vasos e móveis para todo o mundo ocidental. Em Paris, destacou-se René Lalique, que criou jóias no estilo de Gallé. Todos abordoando motivos florais em riscos de rara finura.
Vaso de René Lalique de 1902
Literatura, “Les Fleurs Du Mal” e “Au Bonheur des Dames”
Na França, por volta de 1900, a inquietação resultante das transformações científicas por que passava a humanidade, estava no auge. Os escritores, embora cultuando Charles Baudelaire, Jean Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé, aos quais se juntavam os estrangeiros Edgard Allan Poe, Walt Whitman, Émile Verhaeren e Gabriele d'Annunzio, já não se contentavam apenas com as soluções simbolistas então em moda. Arquitetavam novas teorias culturais, experimentavam timidamente outras fórmulas expressivas, fundavam revistas e redigiam manifestos.
Charles Baudelaire, cujos primeiros trabalhos passaram despercebidos, já havia escrito aos 20 anos alguns dos poemas que comporiam o seu livro mais famoso, Les Fleurs du Mal, publicado em 1857, depois de 15 anos de paciente elaboração. Aos 26 anos, Baudelaire leu um conto de Edgard Allan Poe, iniciando a sua admiração pelo poeta estadunidense, cuja obra em prosa traduziu e publicou, ao longo de quase 17 anos. Foi Charles Baudelaire, o homem que criou o conceito do flâneur parisiense. Só aos 36 anos, Baudelaire sentiu que deveria reunir seus poemas em livro, optando pelo título de Les Fleurs du Mal. Uma crítica saída no Le Figaro atraiu os olhos da censura, levando a justiça a condenar o livro por ultraje à moral pública e aos bons costumes, além de exigir a supressão de seis poemas. Só em 1949 essa decisão foi revogada.
Na França, por volta de 1900, a inquietação resultante das transformações científicas por que passava a humanidade, estava no auge. Os escritores, embora cultuando Charles Baudelaire, Jean Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé, aos quais se juntavam os estrangeiros Edgard Allan Poe, Walt Whitman, Émile Verhaeren e Gabriele d'Annunzio, já não se contentavam apenas com as soluções simbolistas então em moda. Arquitetavam novas teorias culturais, experimentavam timidamente outras fórmulas expressivas, fundavam revistas e redigiam manifestos.
Charles Baudelaire, cujos primeiros trabalhos passaram despercebidos, já havia escrito aos 20 anos alguns dos poemas que comporiam o seu livro mais famoso, Les Fleurs du Mal, publicado em 1857, depois de 15 anos de paciente elaboração. Aos 26 anos, Baudelaire leu um conto de Edgard Allan Poe, iniciando a sua admiração pelo poeta estadunidense, cuja obra em prosa traduziu e publicou, ao longo de quase 17 anos. Foi Charles Baudelaire, o homem que criou o conceito do flâneur parisiense. Só aos 36 anos, Baudelaire sentiu que deveria reunir seus poemas em livro, optando pelo título de Les Fleurs du Mal. Uma crítica saída no Le Figaro atraiu os olhos da censura, levando a justiça a condenar o livro por ultraje à moral pública e aos bons costumes, além de exigir a supressão de seis poemas. Só em 1949 essa decisão foi revogada.
Charles Beaudelaire, escritor francês, autor de "Les Fleurs du Mal".
O Paraíso das Damas de Émile Zola
Émile Zola foi o idealizador e principal expoente do naturalismo na literatura. Seu texto conhecido como O Romance Experimental (1880) é o manifesto literário do movimento. Émile Zola é tão importante para a Belle Époque, que não posso deixar de escrever algo sobre a sua obra que mais me impressionou, “Au Bonheur des Dames”. Este homem que tem seus restos mortais repousando, merecidamente, no Panthéon de Paris.
No século XIX, surgiram em Paris os grandes magazines, como Le Bon Marché e Printemps (que, a propósito, são até hoje as grandes lojas de departamentos que não se pode deixar de visitar estando em Paris), novos palácios de compras que revolucionariam o sistema comercial e industrial da moda. Inspirado pela novidade, Émile Zola, um dos grandes autores do realismo francês, publicou em 1883 "Au Bonheur des Dames" (O Paraíso das Damas).
É uma obra obrigatória para quem se interessa pela história da moda e dos hábitos da sociedade francesa à época. Zola fez uma ampla pesquisa econômica, arquitetônica e urbanística para escrever este livro, que aborda praticamente todas as questões do comércio moderno da moda, desde a força da publicidade ao ainda incipiente culto do corpo, desde produção frenética da novidade aos dispositivos de sedução utilizados nas vendas.
Este lado sociológico é a melhor coisa do livro, que tem como fio condutor a relação amorosa entre uma balconista vinda da classe baixa e o rico proprietário do grande magazine Au Bonheur des Dames. É particularmente sagaz e importante a análise que Émile Zola faz da maneira como este comércio nascente explora a psicologia das mulheres. Não é de hoje que o comércio utiliza a nossa parte psicológica, viu meninas?! Além disso, "O Paraíso das Damas" é um belo romance, daqueles para se ler saboreando as palavras.
Émile Zola foi o idealizador e principal expoente do naturalismo na literatura. Seu texto conhecido como O Romance Experimental (1880) é o manifesto literário do movimento. Émile Zola é tão importante para a Belle Époque, que não posso deixar de escrever algo sobre a sua obra que mais me impressionou, “Au Bonheur des Dames”. Este homem que tem seus restos mortais repousando, merecidamente, no Panthéon de Paris.
No século XIX, surgiram em Paris os grandes magazines, como Le Bon Marché e Printemps (que, a propósito, são até hoje as grandes lojas de departamentos que não se pode deixar de visitar estando em Paris), novos palácios de compras que revolucionariam o sistema comercial e industrial da moda. Inspirado pela novidade, Émile Zola, um dos grandes autores do realismo francês, publicou em 1883 "Au Bonheur des Dames" (O Paraíso das Damas).
É uma obra obrigatória para quem se interessa pela história da moda e dos hábitos da sociedade francesa à época. Zola fez uma ampla pesquisa econômica, arquitetônica e urbanística para escrever este livro, que aborda praticamente todas as questões do comércio moderno da moda, desde a força da publicidade ao ainda incipiente culto do corpo, desde produção frenética da novidade aos dispositivos de sedução utilizados nas vendas.
Este lado sociológico é a melhor coisa do livro, que tem como fio condutor a relação amorosa entre uma balconista vinda da classe baixa e o rico proprietário do grande magazine Au Bonheur des Dames. É particularmente sagaz e importante a análise que Émile Zola faz da maneira como este comércio nascente explora a psicologia das mulheres. Não é de hoje que o comércio utiliza a nossa parte psicológica, viu meninas?! Além disso, "O Paraíso das Damas" é um belo romance, daqueles para se ler saboreando as palavras.
Émile Zola, criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista, além de importante figura libertária da França.
Os famosos "corsets" ou espartilhos que modelavam os corpos femininos da Belle Époque.
Exterior da loja de departamentos 'Printemps' que revolucionou os hábitos das francesas.
Interior da loja de departamentos 'Printemps'. Será que foi por esse caminho que começou o 'prêt-à-porter'?
Acredito que sim, pois foi em 1829 que o francês Barthélemy
Thimmonier inventou a máquina de costura.
Thimmonier inventou a máquina de costura.
A Pintura e O Impressionismo
O nome Impressionismo, como tantos outros exemplos na História da Arte, inicialmente teve um cunho pejorativo. Foi um rótulo posto no trabalho de um grupo de artistas que, de acordo com os críticos da época, acreditavam na impressão do momento como algo tão importante que se bastava por si mesma, dispensando as técnicas tradicionais acadêmicas.
Esses artistas realizaram inúmeras exposições em Paris entre 1874 e 1886, porém, sua aceitação pelo público foi lenta e sofrida, pela incompreensão ao trabalho realizado.
Ridicularizados, inicialmente pela crítica, por não seguirem a tradição pictórica que vinha sendo solidificada desde o renascimento, acabaram por, paulatinamente, obter o respeito e aceitação de suas “novas técnicas“ por parte do público. E como acontece em muitas ocasiões a crítica foi a reboque dos acontecimentos.
Na verdade, o impressionismo era a busca da imagem ao natural, a importância do pincel na formulação da obra.
"Bal au Moulin de la Galette", obra-prima de Renoir, 1876. O Moulin de la Galette ainda exite na Butte Montmartre no 18ème. Este eu também recomendo. Como dizem os parisienses, c'est hallucinant.
E aqui parte (detalhe) da obra primorosa de Renoir, o meu preferido "La Danse à la Ville", 1883. Está no Musée D'Orsay.
Claude Monet, o mestre do impressionismo, "Femmes au Jardin", 1883, atualmente no Musée D'Orsay.
Claude Monet, "The Walkers, Bazille and Camille", 1865, obra de propriedade da National Gallery of Art, Washington DC, USA.
Cartazes Publicitários na Belle Époque
Os espetáculos e a busca pelo prazer e pelo entretenimento ganhavam força e tornava a cidade um local procurado por artistas, escritores e intelectuais da época. Com isso, vem à cena o surgimento das vanguardas entre os artistas, a busca pelo novo e a necessidade de diferenciação dos demais. Destaco, portanto, aqui o papel da arte na propaganda, em especial a arte de Henri Toulouse-Lautrec nos cartazes buscando, através da estética, uma tentativa de promoção e persuasão.
Cartaz de propaganda típico da Belle Époque
A Moda e os Hábitos
Passou-se a se valorizar muito as curvas do corpo feminino e nunca a cintura fora tão afunilada. O ideal feminino era ter 40 cm de cintura e, para isso, as mulheres recorriam a cirurgias por meio das quais pudessem tirar as costelas flutuantes e deformar mais ainda seus corpos com o uso do espartilho. E depois dizem que o culto do corpo muito magro começou nos anos 1960. Vã ilusão. As mulheres já passam por “torturas” para atingir um ideal de beleza há muito tempo. E esse ideal varia de acordo com o “todo” vigente no momento, artes em geral, o momento econômico, social, o contexto histórico. Durante esse período, o corpo feminino também passou a ser muito coberto por tecidos. Todas as partes do corpo ficavam ocultas exceto as mãos e as faces, isso quando não fossem usadas luvas. Usavam-se golas altas cobrindo o pescoço, saias em forma de sino com as quais as mulheres não conseguiam andar se não dessem pequenos passos, botas para evitar o indecoroso aparecimento de suas canelas e adornos de chapéus como, por exemplo, flores enfeitando coques fofos.
As mulheres ainda totalmente cobertas. Não podia aparecer nada.
Mais para o final da Belle Époque, o embrião do que hoje conhecemos como tailleur, mas ainda com o uso dos belos e charmosos chapéus. Uma pena que hoje em dia não se usem mais chapéus.
Outra novidade foi a masculinização do visual feminino para que as mulheres pudessem andar de bicicleta ou a cavalo mais confortavelmente, usando um traje mais esportivo. Surgiu assim, uma espécie de saia-calção bufante e, mais tarde, com a incorporação dessas roupas ao dia-a-dia, o tailleur, que nada mais é senão o terninho feminino. Começou-se a tomar banho de mar como forma de lazer, o que antes tinha apenas funções terapêuticas. Mas a roupa que usavam era muito diferente das que conhecemos hoje, e muito interessante também, era feita de malha (normalmente em fios de lã) e cobria o tronco indo até os joelhos. Sem contar que entrava-se no mar de meias e de sapatos.
Principais Características da Belle Époque
- Influência do Art Noveau, das formas curvilíneas;
- Cinturas extremamente afuniladas, a famosa “Ampulheta”;
- Golas altas e decotes fechados;
- Saias sem anquinhas, porém volumosas, muito ajustadas e em formato de sino;
- Chápeus com flores sobre coques;
- Botas de cano curto;
- Prática de esportes, principalmente o Hipismo e o Tênis;
- Banhos de mar com malhas de lã, meias, sapatos e capa.
- Alta-Costura em evidência com novos nomes, tais como, Jacques Doucet, John Redfern e Paul Poiret.
A Belle Époque é um estado de espírito, bem retratado nesta foto. As pessoas livres, sorridentes, flanando pelas ruas de Paris.
Com tudo o que expus neste texto, quero ressaltar só uma coisa... a Belle Époque, obviamente, não é um limitação matemática de tempo, ou as artes em geral, ou mesmo a moda. A Belle Époque é, sobretudo, UM ESTADO DE ESPÍRITO, que se manifesta não só em uma pessoa, mas às vezes, num país inteiro, chegando a atingir outros ainda.
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