A maioria dos escravos em Roma antiga e nas províncias que constituíram seus domínios durante a República e, principalmente, durante o Império, teve sua origem num costume surgido ainda no século VII a.C., quando durante as vitórias romanas sobre povos vizinhos da península Itálica foram aprisionados e submetidos aos trabalhos menos apreciados pelos romanos (serviço doméstico e trabalho braçal agrícola). No entanto, nesta época a divisão de terras era ainda em pequenas propriedades, não existindo grandes quantidades de mão-de-obra escrava. Contudo, o trabalho escravo passou a ser necessário cada vez mais à medida que as conquistas romanas se ampliaram sobre a península Itálica, o mar Mediterrâneo, o Norte da África e o Oriente Próximo (Egito, Síria, Mesopotâmia, Anatólia, Pérsia, Palestina e mar Negro), modificando a sociedade e a economia de Roma (séc. IV a.C. - III a.C.).
Com o tempo as terras concentraram-se nas mãos de poucos proprietários (Patrícios) e muitos camponeses tiveram que se submeter ao trabalho agrícola em troca de moradia e alimentos tornando-se colonos ou migrar para as cidades onde formaram uma grande massa de plebeus desocupados, ou ainda, servir na estrutura de guerra romana. Por isso, os escravos passaram a ser vistos como mão-de-obra disponível, que podia ser encaminhada para fazer qualquer trabalho nos latifúndios.
Com a conquista romana da Europa ocidental, do norte da África e da Ásia (Oriente Próximo), muitos de seus habitantes foram levados à península Itálica ou as províncias romanas como escravos. No séc. I a.C., o número de escravos aumentou com o tráfico exercido por piratas que traziam escravos da África, da Espanha, da Gália e, sobretudo, do mar Negro, na Ásia Menor.
Outra forma de se obter escravos era o direito do pai vender seus filhos; ou quando um homem livre era punido por suas dívidas, tornando-se escravo de seu credor (esta forma de escravidão seria extinta no durante o Império).
Há cálculos do número de escravos existentes nos domínios romanos. Segundo o historiador inglês Blair, havia a proporção de três escravos para cada homem livre durante o período que foi da conquista da Grécia (146 a. C) ao reinado do imperador Alexandre Severo (222-235 a.C.). Com base nesta proporção, durante o reinado do imperador Cláudio (41-54 d.C.) havia cerca de 21 milhões de escravos no Império Romano.
Por exercerem diversos trabalhos, os escravos com o tempo, foram classificados em grupos, conforme o seu trabalho. Assim, havia os Servi Publici e os Servi Privati.
¨ Servi Publici – era escravos que pertenciam ao Estado. Serviam os altos funcionários do Estado romano (magistrados, cônsules, etc), como mensageiros, serventes em tribunais, prisões ou templos. Ou, então, trabalhavam em serviços pesados, como nas construções de prédios, estradas, aquedutos, etc, na limpeza de templos, palácios, esgotos e aquedutos, tanto em Roma quanto nas províncias.
¨ Servi Privati – eram de propriedade particular de cidadãos romanos. Podiam ser divididos em:
1- Família Rústica: trabalhavam no campo, nas chamadas Villae (grandes fazendas), onde criavam animais, confeccionavam tecidos, plantavam hortas e pomares, produziam utensílios, etc.
2- Família Urbana: composta por escravos que trabalhavam na casa do seu senhor, fazendo serviços domésticos (preparando a alimentação, limpeza e entreterimento). Além disso, desempenhavam as funções de mensageiros, acompanhantes e transporte de liteiras. Não era difícil encontrar entre os escravos urbanos secretários (escribas), médicos, filósofos, pedagogos, contadores, gerentes e agentes de comércio. O mesmo ocorria com atores, malabaristas e gladiadores. Os gladiadores eram escolhidos entre os prisioneiros de guerra mais treinados (samitas, gauleses, trácios), comiam bem e freqüentavam escolas especiais. À medida que o gosto pelos jogos sangrentos foi crescendo entre os romanos, cresceu o número de gladiadores.
Pelo que se observa, a única atividade que restava aos romanos, além da guerra, era a de ser senhor de escravos, pois todo trabalho era escravo.
A consciência da força coletiva dos escravos foi despertada pela vivência em grupo. Assim, sendo, periodicamente explodiam revoltas de escravos em diversas regiões dos domínios romanos. A revolta escrava mais conhecida foi comandada por Espártaco, escravo trácio, que em 73 a.C. liderou cerca de 70 mil escravos de origem celta e germânica pela idéia de liberdade. A revolta acabou em 71 a.C., resultando em 6 mil cruzes na Via Appia, ornamentando o retorno do general Crasso, vitorioso com seu exército. Os corpos expostos, crucificados, era uma advertência de Roma as novas tentativas de liberdade dos escravos.
No entanto, haviam outras formas de um escravo conseguir a liberdade, admitida somente se fosse por meios pacíficos: a) a liberdade era concedida a escravo por testamento: o senhor deixava sua vontade de libertar o escravo após sua morte registrada; b) a liberdade concedida pelo senhor; c) a liberdade comprada pelo escravo: com dinheiro que acumulou durante sua vida, que era usado pelo senhor para comprar outros escravos.
Quando livres, os escravos seguiam dois caminhos: ou se juntavam a imensa massa de desocupados (plebeus, estrangeiros...) sustentada pelo Estado, ou integravam-se à população tornando-se na maioria das vezes pequenos agricultores (colonos), influenciando com seus costumes a cultura romana.
Em geral, aos cidadãos romanos (Patrícios e, depois, Plebeus), os espetáculos públicos envolvendo escravos, principalmente os castigados, não despertava nenhum sentimento humano mais profundo. Não havia por que lamentar pela vida de um escravo que poderia ser substituído por outro. Assim, os escravos eram meras “coisas” cujo destino era a vontade do “dono”, seu senhor. Prisioneiros de guerra, que eram poupados à morte, passaram à patrimônio do Estado romano, podendo ser vendidos à particulares. O fim da escravidão era uma coisa que a sociedade romana não podia imaginar, pois quase todo trabalho produtivo nos domínios romanos era obra de escravos.
Mas, a partir do séc. I d.C., a escravidão foi ameaçada pela doutrina do Cristianismo, que pregava princípios de igualdade entre os homens. Também o fim da expansão territorial romana colocou um freio na intensa massa de escravos (prisioneiros de guerra) que abastecia a produção econômica. A escravidão somente acabou entre o séc. III e V d.C., quando o Império Romano sofreu profundas mudanças sociais, políticas, econômicas e religiosas, mas a exploração do homem pelo homem não acabou ai, pois a escravidão foi substituída pela servidão na Idade Média.
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