Nas décadas de 50 a 80, multiplicam-se os conflitos regionais. Em muitos deles, como no Sudeste Asiático e no Afeganistão, há a participação direta dos exércitos norte-americano e soviético. Ocorre também uma série de acontecimentos que escapam à órbita das potências hegemônicas, como o ressurgimento dos conflitos étnicos na Ásia e na África.
Guerra da Coréia
Com a rendição do Japão, em 1945, tropas soviéticas ocupam o norte da península coreana e forças norte-americanas se estabelecem no sul, com a divisa na altura dos 38 graus de latitude Norte. A idéia dos aliados é criar um governo único de caráter liberal para uma Coréia independente. As tropas soviéticas deixam o norte em setembro de 1948. No mesmo mês, Kim Il-sung, veterano líder de uma guerrilha comunista que combatera os japoneses, proclama no norte a República Popular Democrática da Coréia. Em agosto do ano seguinte é estabelecida no sul a República da Coréia, sob a liderança de nacionalistas de extrema direita. Os dois lados reivindicam soberania sobre toda a península e o norte ataca o sul em junho de 1950. O Conselho de Segurança da ONU recomenda aos países-membros que ajudem o sul e é formada uma força de 15 países, sob comando do general norte-americano Douglas MacArthur. Em outubro de 1950 a ofensiva liderada pelos EUA chega à fronteira entre o norte da Coréia e a China. Os chineses entram no conflito e um ano depois a situação se estabiliza, aproximadamente na linha anterior ao conflito. A morte de Stalin provoca um relativo relaxamento da tensão e um armistício é assinado na aldeia fronteiriça de Panmunjom em 27 de julho de 1953. Nunca foi formalizado um acordo de paz. Morreram pelo menos 3,5 milhões de pessoas, entre elas 142 mil soldados norte-americanos.
GUERRA DO VIETNÃ
Desde fevereiro de 1955, os EUA, aliados de Ngo Dinh Diem, católico e favorável à contenção do comunismo na Ásia, tinham começado a treinar sul-vietnamitas para lutar contra o Vietminh. Em outubro de 1955, Ngo destrona o imperador Bao Dai e proclama-se presidente do Vietnã do Sul. A resistência a seu regime organiza-se na Frente Nacional de Libertação (FNL), em dezembro de 1960, e no Exército vietcong, em fevereiro de 1961. Em resposta, Kennedy aumenta para 15 mil o número de conselheiros militares no sul.
A intervenção - É decidida em 1964, por Lyndon Johnson, marcando o início da fase de escalada de guerra, após o assassinato de Ngo. Em outubro do mesmo ano, o comandante-em-chefe americano, general William Westmoreland, chefia 148 mil homens; em 1969, esse número aumenta para 541 mil. Quando os vietcongs ocupam Hué, em janeiro de 1968, Johnson manda suspender os bombardeios. Em maio de 1968, iniciam-se, em Paris, as conversações Hanói/Washington, ampliadas, no ano seguinte, com a participação de Saigon e da FNL; mas arrastam-se porque os EUA recusam a exigência de Hanói de que suas tropas sejam retiradas. Os protestos dos pacifistas criam para Washington uma situação insustentável.
Internacionalização - Desde maio de 1964, os EUA tinham começado a bombardear as regiões controladas pelo Pathet Lao, para destruir a Trilha Ho Chi Minh, dentro do território laociano, usada pelos norte-vietnamitas para transportar tropas e suprimentos para os vietcongs. Ao mesmo tempo, a máquina de guerra americana apoiava o Exército real laociano, de Suvana Fuma, contra os esquerdistas, situação que só teria fim com um acordo assinado em 21/2/1973. Em março de 1970, com o pretexto de destruir "santuários" comunistas, o presidente Richard Nixon, de comum acordo com o general Lon Nol, que derrubara o príncipe Sihanuk, ordena bombardeios às áreas do Camboja ocupadas pelo Khmer Vermelho. Decide ainda ataques de intensidade sem precedentes a Hanói (março, outubro e dezembro de 1972), em represália pela tomada de Quang Tri pelos vietcongs.
Acordo de Paris - Negociado pelo secretário de Estado Henry Kissinger e pelo chanceler norte-vietnamita Le Duc Tho, só é obtido em 27/1/1973. Estabelece o cessar-fogo, a retirada das tropas norte-americanas, a convocação das eleições gerais no Vietnã do Sul e a libertação dos prisioneiros de guerra (595 americanos, 26 mil sul-vietnamitas e 4 mil membros da FNL). Os EUA perdem 45.941 soldados, têm 800.635 feridos e 1.811 desaparecidos em ação (até hoje afirma-se que há homens presos em vários locais do sudeste asiático). Não há estatísticas seguras sobre as baixas vietnamitas, mas sabe-se que ultrapassaram 180 mil.
Vietnamização - Com a retirada norte-americana, o governo de Nguyen Van Thieu se enfraquece diante do avanço das tropas vietcongs: em 21/4/1974, ele renuncia e foge para os EUA. Em 30/4/1975, o general Duong Van Minh assina a rendição. Saigon é rebatizada como Cidade de Ho Chi Minh e, no ano seguinte, o país é unificado.
John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), filho de uma rica e tradicional família católica de Massachussets, de origem irlandesa, assume a Presidência dos Estados Unidos em 1960. Imprime ao governo uma ação de enfrentamento direto à expansão socialista e, ao mesmo tempo, de apoio a medidas de cunho social no Terceiro Mundo. É responsável tanto pela Aliança para o Progresso, para pacificar a América Latina, quanto pela invasão frustrada da baía dos Porcos (Cuba) e pelo maior envolvimento dos EUA no Vietnã. Usa seu charme pessoal e de sua mulher, Jacqueline, como armas de carisma político. Seu assassinato, em 1963, durante um desfile em Dallas, gera polêmica até hoje. As investigações oficiais mantêm a versão da responsabilidade individual de Lee Oswald no crime.
LAOS
Durante a guerra contra o Japão forma-se o movimento nacionalista Lao Issarak, com participação comunista e nacionalista, que conquista a autonomia laociana em 1949. Nesse ano surge também o Pathet Lao, com predomínio comunista, que apóia a guerra do Vietminh e estabelece bases revolucionárias na fronteira. A independência, em 1954, leva à formação de um governo de coalizão, que se desagrega em virtude da guerra civil entre o Pathet Lao e os nacionalistas. O conflito se estende até 1964, quando as tropas do Pathet Lao ocupam a planície dos Jarros. Mas os Estados Unidos intervêm, bombardeando a trilha Ho Chi Minh e dando apoio militar às tropas nacionalistas do príncipe Suvana Fuma. O conflito prossegue até fevereiro de 1973, quando é assinado o Acordo de Paris.
GUERRA DO CAMBOJA
Reconhecido como parte da União Francesa, o Camboja institui a monarquia constitucional em 1946, tendo o príncipe Norodom Sihanouk como chefe de Estado. Declara-se neutro na guerra vietnamita entre 1946 e 1954, quando sua independência é reconhecida. Em 1970, a pretexto de destruir santuários vietcongs em território cambojano, os Estados Unidos patrocinam um golpe militar e intervêm com tropas próprias. A guerra reúne numa frente comunistas (Khmer Vermelho) e monarquistas. Os Estados Unidos retiram suas tropas em 1973, em decorrência do Acordo de Paris. Os nacionalistas de direita proclamam a República e tentam derrotar militarmente a frente Khmer-Sihanouk. Esta ocupa a capital, Pnom Penh, em 1975. Os monarquistas aceitam a República. Nas eleições de março de 1976, Sihanouk é eleito presidente e forma um governo de coalizão com o Khmer. Desentendimentos sobre o programa de reconstrução do país obrigam Sihanouk a retirar-se, deixando o Khmer Vermelho formar um governo exclusivo em abril de 1976.O novo governo do Khmer implanta então seu programa: força a transferência da população das cidades para o campo, reduz drasticamente a atividade industrial e isola o país. Dirigido pelo Partido Comunista do Kampuchea (novo nome do país), sob a liderança de Pol Pot, o governo se aproxima da China e rompe relações com o Vietnã.
Invasão vietnamita - Em dezembro de 1978, o Camboja é invadido por tropas do Vietnã, que instalam no poder dissidentes cambojanos rompidos com o Khmer. Inicia-se uma guerra de guerrilhas, sob o comando de Pol Pot, líder do Khmer Vermelho. O novo governo não é reconhecido internacionalmente e Pol Pot apresenta-se, inclusive na ONU, como representante legítimo do país. Durante dez anos, o país, já devastado durante o regime do Khmer, convive com intensa guerra civil. Forçadas pela aliança das forças oposicionistas, sob a presidência do príncipe Sihanouk e vice-presidência de um líder do Khmer Vermelho, as tropas vietnamitas deixam o Camboja em 1989. O plano de paz da ONU, acordado em agosto de 1990, prevê a criação de um Conselho Nacional Supremo de Transição (CNST), o desarmamento das forças em luta, retirada de todas as forças estrangeiras, integração das forças armadas guerrilheiras num exército nacional unificado e convocação de eleições. O acordo de paz é assinado em Paris, em outubro de 1992, com a formação do CNST, tendo o príncipe Norodom Sihanouk como presidente. A ONU envia contingentes de paz para garantir o cumprimento do acordo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.